A vingança dos cães
Dorati não gostava muito de animais. Um pouquinho, tinha a preferência por gatos, principalmente a gatos pretos. Era uma pequena paixão, mas não era tanta quanto a seu irmão Marlon, que era fascinado por aves, principalmente papagaios e maritacas. Diziam que ele chegou a possuir dez maritacas e três papagaios e todos falavam alguma coisa.
O tempo passou e suas maritacas e papagaios acabaram. Alguns morreram, outros fugiram e ele foi até processado pelo meio ambiente por criar aves em extinção. Pagou uma multa e disse que nunca mais iria manter aves, principalmente as suas aves prediletas. Portanto, resolveu a ter apenas uma calopsita, que somente assobiava e nada de falar.
Dorati, portanto, não tinha muita paciência com a calopsita, sempre dizia que o bicho fazia muito barulho, andava pela casa e fazia suas necessidades físicas em qualquer lugar da residência. Um dia, quando ela foi sentar na cadeira para falar ao celular, exibindo seu novo e lindo vestido, o bichinho resolveu a defecar nela e sua raiva ficou mais forte contra a ave. Foi um desastre, pois Marlon ficou nervoso e os dois chegaram a ficar sem conversar por alguns dias. O tempo passou e voltaram a conversar.
Em uma segunda-feira, quando os dois iam para o trabalho, eles estavam conversando entre si sobre as coisas lindas da natureza. Como era bela uma harmonia entre o ser humano e os animais, apesar de Dorati não ser muito fã deles, mas os achavam herdeiros do planeta.
- Minha amiga e grande irmã. Os animais são uma riqueza que os homens têm. Existem os animais domésticos que sempre estarão com os seres humanos. Existem aqueles selvagens, os quais precisamos ter muito respeito e receio deles. Não querem comunicar conosco. Quando irados, poderão até atacar quem os ameaça.
- Veja aquela fileira de andorinhas pousadas nos fios dos postes. Estão em várias posições e até parecem com uma pauta de notas musicais.
- Olha ali, voando em círculo, vemos uma nuvem de urubus. Eles parecem estar dançando uma quadrilha, aquela que se dança no mês de junho de cada ano.
- É fantástica a sua colocação, Marlon.
- Eu não sou muito fã de aves. Você sabe. Elas não me impressionam de maneira nenhuma.
- Tenho uma simples queda por gatos. São mansos, amáveis, carinhosos e não fazem tanta algazarra como aquelas maritacas e os três monstrinhos papagaios. Ainda bem que você não os tem mais.
- Nem me fale. Estou pagando multas até hoje.
Desta maneira, os dois seguiam para o trabalho, sendo que Marlon dirigia o veículo e Dorati sempre rindo e feliz.
Em um dado momento, saiu correndo um gato de uma casa, fazendo com que Marlon desse uma freada muito rápida e Dorati quase bateu a cabeça no para-brisa do veículo.
- O que foi isto, irmão?
- Foi um gato que saiu correndo daquela casa e quase entrou debaixo do carro.
- Tenha cuidado, irmão.
- Olhe, Marlon.
- Ele está fugindo daqueles dois cães que o perseguem. É uma covardia ver dois grandes cães perseguindo um pobre e indefeso gato. Ele é preto. É minha cor predileta e vamos parar o carro e protegê-lo destes dois monstros.
De um instante, Marlon parou o veículo e os dois desceram gritando para que os cães parassem a perseguição.
- Psiu, sai cachorro, fora, não faça isto, gritava Dorati muito irritada.
- Não tem jeito. Fora cachorro feio, malvado...
Neste momento, ao ver que o pobre do gato seria pego e viraria uma bola nas bocas dos dois cachorros, Marlon pegou algumas pedras que estavam perto deles e as atirou rumo aos cachorros.
O gato consegui fugir escalando um muro alto.
Marlon atirou as pedras nos cães e algumas delas feriram os dois cães.
Os cães olharam para os dois como se estivessem fotografando seus rostos. Os gritos de dor das pedras eram sentidos por eles. Sentiam muitas dores, saíram correndo disparados e gritando, como se estivessem pedindo ajuda. Não se sabe como, mas seus uivos eram tão fortes que alguns moradores saiam de suas casas para ver o que estava acontecendo.
Marlon e Dorati, sem compreenderem o que se passava e vendo que os moradores estavam saindo de suas casas, entraram o veículo e foram embora. Meio apavorados com aquela situação, erraram o caminho e foram parar em um lugar sem saída. Voltaram, mas tinham que passar por um outro local onde estavam fazendo várias casas. No local, estavam muitas britas, cascalhos e areia, pois a construção era grande e várias casas estavam sendo erguidas naquele local. Tiveram que fazer manobras e era lenda sua movimentação.
De repente, a sua frente, surgiram uma grande quantidade de cães. Pareciam ser uns vinte ou mais. Os dois cães que foram apedrejados estavam à frente como se estivessem dando ordens aos outros. Entre eles era ouvida a expressão: “ vamos atacar”.
O grupo de cães se dividiu em três. Uns foram para a areia, outros para as britas e o terceiro grupo foi para os cascalhos. Neste momento, foram cascalhos, britas, areias e um monte poeira em direção ao veículo em que estavam Marlon e Dorati. Foram tantos objetos atirados na direção do casal de irmãos que o veículo ficou com sua pintura descascada.
Marlon e Dorati não sabiam o que fazer, pois os cães, aqueles que foram apedrejados, tivessem a ousadia de convocar seus amigos e darem uma vingança que permanecerá na lembrança deles e sempre guardarão que jamais se pode judiar dos animais.