Maionese
E tem dessas madrugadas frias, acordado, sozinho, inevitavelmente pensando besteiras. Nas futilidades da vida. Nas decisões e suas consequências.
Nas pessoas que chegam. Nas que foram. Nas que ainda estão por perto... por enquanto.
Nas coisas ditas que nunca deveriam ter saído da boca. Assim como as não ditas, que talvez tivessem mudado alguma coisa.
Sabe que algumas tristezas e decepções são inevitáveis, a gente sempre espera pelo pior, mesmo assim, sempre nos pegam desprevenidos.
Dentre as coisas boas e ruins, as pequenas, as que ficam ocultas nas entrelinhas, são as que acabam importando.
A existência do "agora" definitivo, é o resultado de tudo que ocorreu até então.
É o acúmulo desordenado dessas pequenas peças que dão sentido à vida.
Todas as decisões, por mais inconsequentes ou ingênuas são tão importantes quanto todos os bons conselhos que decida, deliberadamente, ignorar.
Reflexo da idade, talvez.
A verdade é que, por mais que queira se enganar, sabe que já não tem mais pique para lidar com as consequências de decisões estúpidas.
Admita, está ficando velho e ranzinza.
Seu corpo não é mais indestrutível.
Sua mortalidade não é mais um tabu distante.
Você vai morrer. Logo.
Sabendo disso, o que vai deixar para trás?
Culpa? Remorços? Arrependimentos?
Valeu a pena, afinal?
Nada. O resultado é um monte de merda, porra!
Droga, acabei me exaltando, desculpe.
Preciso aprender a ser mais tolerante. Com os outros. Consigo mesmo.
Admita. Neste momento, não importa se foi a maionese mesmo.
Só sei que estou aqui, sozinho, de madrugada, pensando na vida, com esse piriri desgraçado.
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Agosto/2018