Jackline

- Jackline?

- Jackline, senhor - confirmou a garota, com um grande sorriso no rosto vermelho. - Como a corda.

- Ah, sim - repeti. - A corda. Será que sua mãe não quis dizer "Jackleen" e escreveram errado?

O sorriso no rosto da criada apagou-se. Baixou a cabeça, olhos no chão.

- Desculpe, não quis ofender - atalhei.

- Não fiquei ofendida, senhor - respondeu ela, erguendo novamente a cabeça. - Mas eu não conheci minha mãe.

- Eu... lamento - comentei, embaraçado.

- Na verdade, a única coisa que sei dela foi o que escreveu no bilhete que deixou junto comigo, no berço das Irmãs de Caridade.

- Irmãs de Caridade? Um orfanato? - Indaguei.

- Sim senhor. No Greenwich Village...

As freiras haviam alugado uma casa, ela me contou, e puseram um berço na saleta de entrada. A porta da frente ficava aberta, dia e noite, de modo que qualquer pobre mãe que não pudesse prover o sustento do seu bebê, podia entrar ali e deixá-lo para ser recolhido, cuidado e, talvez, adotado. Ao sair, era necessário tocar uma sineta para que as irmãs soubessem que uma criança havia sido deixada para trás.

- E você sabe o que dizia o bilhete da sua mãe? - Indaguei curioso, já que ela não parecia melindrada em contar sua triste história de abandono.

- Eu decorei... - declarou ela com ar contrito. - Era curto e dizia: "O nome da bebê é Jackline Dwyer, nascida nesta cidade de Nova Iorque em 6 de janeiro de 1881. Peço às irmãs que a batizem e cuidem dela, por amor a Cristo e à sua infeliz mãe".

- Dwyer... talvez O'Dwyer, um sobrenome irlandês - ponderei. - Nunca conseguiu descobrir o paradeiro dela?

- Não, senhor... talvez tenha ido para o Oeste... ou morreu. Melhor pensar que morreu, não é? Já que nunca voltou para me buscar.

E erguendo a cabeça de tranças ruivas, acrescentou com orgulho:

- Mas ela tinha uma letra muito bonita!

- [23-08-2018]