Uma noite

Não julgo quem tem um estado de euforia permanente. Porém não sou assim. Sou alguém que vive em estado de completo paradoxo. Uma hora gosto de conversas, risadas; outra, só quero parar de pensar. Quero quietude. E a quero agora. A luz verde ofusca repetidamente minha visão, o que colabora com minha decisão de procurar sentar-me em uma mesa afastada. Barulho. Pessoas. Só preciso de um pouco de tranquilidade.

Estou cambaleante, e os risos são um efeito colateral constante. Minha mente está aérea, nada importa, a não ser um bom lugar para sentar. É quando eu a vejo. Ela importa mais do que qualquer coisa agora. Nossos olhares se cruzam, um meio sorriso tímido se fez em seu rosto, e no meu também. Borboletas fazem meu estômago explodir em um ato de debandada em massa. Aquele milésimo de segundo. O ímpeto de coragem que só o sangue com teor alcoólico pode proporcionar me vem agora. Quero seu calor, o seu toque. O contato da sua pele na minha. Nada desejo mais que encostar meus lábios aos seus e regozijar-me ao final de um beijo. É como dizem no ditado, você já tem uma negação de onde está. O que estou esperando?

Sinto alguém tocar em mim. Me distraio com os vultos a minha volta, e não mais a vejo. Ela se foi. Procuro em volta algum sinal do seus longos e rubros cabelos. Levo a mão à cabeça. Estou chapado. Busco uma visão de seu ombro nu em meio à aglomeração. Será que um dia ainda hei de te encontrar? Aquela mesma roupa preta. A tatuagem de rosas no braço.

Esparramo-me por sobre aquele sofá e ponho a garrafa com as últimas gotas de álcool sobre a mesa. Minha visão está embaçada, com objetos e pessoas dançando defronte a mim como um carrossel psicodélico. Será decorrente do álcool? Com certeza, mas isso não importa. Creio que

o que realmente me importava hoje era ter ela junto a mim. Ela se foi. Talvez nunca mais irei vê-la de novo. O que sobra é o 'se' na minha imaginação. Se tivéssemos nos conhecido.

Quer saber? Foda-se. Ainda sobrou um pouco de whisky. Minha língua está áspera de asco àquele sabor. Mas minha mente ainda quer ficar um pouco mais tonto. Viro tudo até a última gota. Amanhã, com sorte a ressaca me faça esquecer dela.

G Mazzarotto
Enviado por G Mazzarotto em 18/08/2018
Código do texto: T6423248
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.