Visitas

Era dia 30 de agosto e eu te perdi. Assim feito pássaro arteiro que foge da gaiola. Era uma dor, um vazio, uma angustia. Acordei pela manhã e apavorado o vô contava que a vó tinha feito a sua partida.

Clamando por calma, me afastei. Claro que eu não tinha acreditado. Comecei a lavar uma louça suja que estava sobre o lavatório. No coração pulsava um frio arrepiante, mas na minha cabeça minha vó estava viva. No estomago eu não sentia fome ou sede. Era um êxtase que me dominava.

Aquele sábado estava sem cor, sem ânimo e eu não conseguia explicar. Um silencio grande se espalhava por aquela casa. As poucas pessoas que eu via não dizia nada. O meu pai parecia estar entalado com algo e por isso mantinha distancia de mim. Minha irmã menor dormia.

De repente o choro se espalha naquela monotonia. O silencio se perde ao meio dos gritos de dor, gritos que clamavam por vida. Quando a minha fixa caiu, apenas cair ao chão. Não desmaie. Deixei a dor dominar o meu corpo. Me deitei ao pé daquele velho fogão de lenha, aquele que a vó tanto gostava e chorei.

Tudo aconteceu muito rápido, ao fim da tarde todos iam ao cemitério para a última homenagem a tão grande mulher. O silencio voltou aquele lugar. Os pássaros não faziam barulho, se quer o vento batia nos galhos. Um luto imenso dominava almas e espaços vazios naquela tarde.

Logo a noite chegou. Uma noite fria e vazia. O meu corpo queria descansar. Os olhos ardiam e sempre que os fechavam as lagrimas molhavam o rosto. Aos poucos fui adormecendo e em meus sonhos a vó apareceu feliz. Tão plena e tão fugaz, apenas me abraçou e sumiu no meu sonho. Foi assim, por muitos meses. Sempre que a dor apertava, mas ela vinha me visitar em sonhos rápidos. Era como se ela esperasse eu fechar os olhos, me abraçasse e partisse. Quando eu tive catapora era capaz de imaginar ela chegando na porta. Sentia a minha rede balançar por suas mãos. Quando fico doente todos escutam o seu chinelo a fazer barulho cruzando a porta do meu quarto, vem me visitar. Afinal estamos ligadas pelo o primeiro banho até a eternidade.

BranquelaAquarela
Enviado por BranquelaAquarela em 17/08/2018
Código do texto: T6422137
Classificação de conteúdo: seguro