A Moça Apressada

Levantava cedo todos os dias para ir ao trabalho no município vizinho, e precisava tomar quatro ônibus: dois pra ir e dois para voltar.

Certo dia, dentro do ônibus, olhou pela janela... Viu a possibilidade de realizar parte do trajeto de volta, caminhando, deixando de tomar um dos ônibus desta trajetória da rotina. Juntou o ânimo e foi caminhar os três quilômetros de subida até sua casa, que ficava no alto dos morros. Seria uma boa forma de aliviar um pouco daquele estresse após o trabalho no escritório. E transformou isso numa rotina saudável.

Certo dia, por volta das 20 horas de uma terça-feira, desceu do ônibus na avenida principal do centro e caminhou rumo ao morro do cemitério. Ruas com poucos movimentos, casas de portas fechadas e ventando bastante. Um vento seguido de relâmpagos que anunciavam alguma chuva.

Cruzou a ponte metálica com sua má fama de abrigar aqueles usuários de drogas que perambulavam nas ruas sombrias daquele centro comercial, estava lá... O vento assobiava e tornava-a mais sombria que o normal. Olhava para os lados para ver se via algum pedinte daqueles lugares. Aliviado por não ver ninguém se aproximar, suspirou e prosseguiu. Passou da porta do cemitério, notou a escuridão e continuou seu trajeto de retorno.

Não demorou muito, notou estar sendo seguido por uma mulher de saia longa agarrada a uma bolsa de couro. Seus gestos demonstravam que ela estava apressada e abafada. Ao observá-la apertou o passo subitamente.

Não sabia se por causa da rua deserta ou pela proximidade do cemitério, ambos caminhavam como se estivessem competindo inconscientemente. E quanto mais ele apressava, mais a mulher aumentava a velocidade... Ao terminarem aquela pequena subida, longe das imediações do cemitério, e após as casas sem reboco no acostamento, despediam daquele ambiente urbano e adentraram a um terreno ermo entre municípios.

Quando percebeu, havia deixado a mulher pra trás, e ressabiado, atravessou a rotatória. Notou que a mulher andava mais apressada ainda... Quase tropeçando. E havia outro morro pra subir com uma vegetação lateral. Tudo escuro e ermo.

Olhou para trás e viu a mulher, e notou que ela quase desfalecia para acompanhar seus incansáveis passos rápidos. Ela parecia acenar pra ele! Assustado, sentiu um calafrio e ignorou. “Que será que esta mulher está fazendo?” , pensou. Suspirou fundo. Devido quietude do local pensou no pior! "Ela deve estar tentando me assaltar!"

Segurou firme a mochila que levava. Olhou para todos os lados, e não viu mais ninguém, além da mulher. Suspirou fundo novamente e pensou: “Preciso ter coragem. É apenas uma mulher caminhando...”.

Ouviu o grito da mulher. Ela se aproximava... A mulher misteriosa subitamente suplicou em voz alta:

- Moço! Por favor, espera! Posso subir junto do senhor? Tenho medo ir por este caminho sozinha!

Aliviado, suspirou fundo pela ultima vez:

- Nossa moça! Com a pressa que você caminhava, e com esse lugar estranho e deserto, eu até comecei a imaginar coisas quando você gritou! Vamos sim.

Subiram juntos. Ambos aliviados do mal entendido. Ele sentiu-se uma espécie de herói da caminhada pelos lugares ermos. Que bom! Conversaram como se fossem conhecidos até chegarem a salvo no topo daqueles morros, depois despediu-se. Chegaram a área urbana e seguiram direções opostas.

Glaussim
Enviado por Glaussim em 01/08/2018
Reeditado em 16/08/2023
Código do texto: T6406690
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