SEM VOLTA

de supetão ela se viu mulher carnosa rosto de endoidecer anjo sorriso de aposentar monalisa altura de manequim essas coisas foi na faculdade que os dois se cruzaram olhos devorando almas ela engenharia ele direito ela com uma boca de mil beijos ele menos favorecido pela estética mas com dois metros da sola do sapato aos cabelos de castro alves carnudo nos bíceps e conta bancária de assinar promissória em branco essas coisas

deu nem um ano estavam em frente a um padre gorducho cofre da igreja guardando milhões pelo himeneu orquestra de câmara soprano cantando uma ave-maria ela querendo ária de la traviata ele batendo pé sem ave-maria sem casamento essas coisas

lua-de-mel em paris que pouco conheceram pois os chamegos entre os lençóis tinham mais atrativo ela vinte e quatro ele trinta e seis libidos himalaianos ela esculpida por mãos divinas essas coisas

do chamego frequente brotaram três rebentos dois meninos e uma menina formosos saudáveis inteligentes vida ia vida vinha tudo nos conformes chegou hora de colégio pros três chegou hora de confrontamento ela no espelho se confessando se questionando se recusando a ser aquilo peça de enfeite máquina brastemp dele essas coisas

foi quando deu com a barriga dele aumentada os cabelos escasseando os chamegos rareando o desleixo com ela com ele sensação de ilha cercada por tubarões deu de ir à janela invejar formigueiro de gente lá embaixo muito distante aquilo tudo ela com 38 ele com 50 o espelho desejando ela os amigos dele desejando ela ele cego surdo mudo essas coisas

foi quando calçou sandálias havaianas botou um jeans uma camisa leve que realçava os seios e prendeu os cabelos perfumou-se e pegou um ônibus pro centro olhos devorando ela menino chorando com fome no colo de uma coquete com pernas de fora barriga de fora freio quase derruba ela pegou outro ônibus com placa subúrbio-cidade e nunca mais voltou

Matuto Versejador
Enviado por Matuto Versejador em 01/08/2018
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