Ziguezagueando 45
Havia passado por volta de dez minutos que não aparecia ninguém na recepção. Hugo apoia o corpo sobre os cotovelos, estava em pé, com os braços suspensos no pequeno balcão. Nele, havia um telefone, e um vaso de margaridas em cada lado.
Avistando pequeno sino de mão exposto, ao lado do telefone, apropriou-se dele, começando a chacoalhar, na esperança de aparecer alguém para atendê-lo.
Em uma salinha, após aquela que estava, aponta uma cabeça branca, cuja pessoa estava sentada.
Hugo acena uma das mãos, sai um senhor que aparentava ter setenta. Aproxima do balcão, diz, “Boa tarde, meu nome é José. Pois não?”.
Hugo, como fosse comprar uma mercadoria, fica de pé. Esguio no trato, menciona seu nome, e pergunta:
___Como funcionam as acomodações? Aceitam mensalistas? Há quartos individuais? Tenho interesse em um, não gostaria de estar com mais ninguém comigo, eu, meus livros, a Tv e um aparelho de som para ouvir minhas músicas, é o suficiente.
O senhor, dá uma risadinha, sem pretensões de ser indelicado ou irônico, mas sincero, coça o bigode branco, ajeitando o pouco cabelo que ainda tinha na parte superior da cabeça. Respondendo:
____ Bem que gostaríamos de ter tratamento diferenciado. Por falta de espaço, as acomodações: aposentos, refeitório, enfermaria, espaços para tomada de sol, e banho, são coletivas. Temos idosos de todas as classes sociais residindo aqui, eles acabam se ajeitando. Cada quarto, com banheiro, contém três repartições, dormindo uma pessoa em cada.
___Temos ainda algumas benfeitorias agregadas recentemente na casa, que foram realizadas graças a boa vontade de alguns que aqui moram, que doaram dinheiro para que construíssemos um espaço para sauna, banheiras de hidromassagens na maioria dos banheiros, e a piscina aquecida. Vivemos de donativos, dinheiro recebido dos próprios moradores e da sociedade, são mantenedores do suprimento dos gastos coletivo, para que a Casa se mantenha de pé.
Espirra, tosse descontroladamente. Continuando:
___. Temos também aqui...
Deu uma paradinha na conversa, em seguida, adiantou:
___O senhor quer conhecer o espaço?
Hugo, respondeu no susto:
___Sim! Vamos lá!
Foi Hugo e o José, casa adentro. Percorreram todos os cômodos da casa, cozinha, lavanderia, e naqueles que o anfitrião havia dito.
O que encantou Hugo, foi conhecer o centro terapêutico do lugar, onde realizavam trabalhos manuais, aprendiam musicalização e instrumentalização, teatro, e ainda, de lambuja, um cantinho todo convidativo para leitura, com muitos livros expostos, mesas redondas e cadeiras na parte central.
Os funcionários que passavam por ele, dirigiam sorrisos e amabilidades de boas vindas, numa lisura natural, que o deixou descontraído.
Retornaram para a recepção. José confessou, depois de um suspiro, que era administrador, principal responsável pela origem da Casa como pessoa jurídica, que era na modalidade de Fundação, sem fins lucrativos.
Disse que há mais de quarenta anos, tinha destacado todo seu patrimônio e os integralizado àquela sociedade. Era como um sacerdócio para ele, depois de ter perdido o filhos e a esposa em um acidente.
Apesar das dificuldades serem muitas, depois de mais de quarenta anos, não havia se arrependido. Foi o contexto para que vivesse o encontro dele com Deus e os homens.