UM GRANDE ENGANO (parte 2)
Edna mandou para Carminha as fotos do despacho pelo aplicativo de mensagens e depois telefonou novamente.
– O que você acha? A coisa é séria?
– Não me parece – Carminha, a cartomante, era um embuste. Mesmo assim ganhava um bom dinheiro, ainda que tudo fosse uma farsa. Sua clientela era 99% feminina e a maioria ia atrás dela por causa de homem. Enrolando aqui e ali, Carminha se dava bem. No final, era mais conselheira que cartomante. Mesmo não entendendo muito bem aquele despacho inusitado, ela deu seu parecer. – Acho que fizeram só para provocar você.
Edna quase sapateou de tanta fúria.
– Tenho certeza que foi a lambisgóia da Soraia. Eu vejo quando ela passa por aqui com o olho esticado para o Vladimir, a minissaia tão curta que eu quase enxergo o umbigo. Foi ela, com certeza!
A Soraia era bonitona do bairro. Ex-miss-alguma-coisa, ela desfilava seu charme pelas ruas, cada dia com um namorado diferente. Sua preferência, contudo, eram os homens casados. Pelo visto, Vladimir era a bola da vez.
– Ela não vai tirar meu marido de mim! Nós temos um casamento muito feliz! – Edna berrava tanto que era possível ouvir da rua. – Eu vou matar aquela desgraçada!
Carminha ficou em silêncio do outro lado. Felizmente a amiga nunca havia ido visitá-la atrás das suas previsões. Aliás, no caso de Edna, nem era preciso de uma bola de cristal. Só a cega da Edna que não enxergava as coisas que estavam bem à frente do seu nariz. Coitada.
– Fique calma, Edna. O Vlad ama você. Não dê bola para essa mulher.
– Ele me ama sim! Ama muito! –Edna respirou fundo. – Obrigada, Carminha. Tenha um bom dia.
Edna desligou o telefone e foi até a frente da casa a passos firmes. O despacho continuava lá como se a estivesse desafiando. Com um forte chute, banana, batatas e rosas voaram para todos os lados. Satisfeita, Edna deu meia volta e entrou na casa com o senso do dever cumprido.
*
A bomba explodiu um dia depois, uma sexta-feira, à tarde. Edna, comodamente deitada no sofá macio da sala, assistia a um programa de TV depois de ter terminado de limpar a casa. Tudo o que ela queria era relaxar.
Aí o celular tocou.
Edna franziu a testa. Logo agora? O visor acusava o número do aparelho de uma das suas melhores amigas, a Raquel.
– Oi, amiga! Tudo bem?
Raquel não respondeu imediatamente. Respirou fundo como se criasse coragem para falar o que deveria.
– Raquel! Você continua aí?
– Boa tarde, Edna.
A voz dela estava muito, muito esquisita. Algo havia acontecido. E grave.
– Mulher, o que houve? – Edna se endireitou no sofá. – Assim você me assusta.
– Preciso te falar uma coisa. Nem sei por onde começar.
– Pode ser pelo começo – a voz de Edna saiu fria e cortante. Ela fechou os olhos esperando o pior.
– Eu vi o carro do Vladimir entrando em um motel. Aquele novo, sabe? A Caverna do Amor.
Edna ficou muda, tentando absorver o impacto da notícia. Gotinhas de suor surgiram na sua testa.
– Era ele. Reconheci a placa – emendou Raquel, constrangida. – Eu não podia deixar você na ignorância da cretinice dele.
– Me dá o endereço do lugar – limitou-se a dizer Edna. Resolveria aquilo rapidinho.
Raquel passou a localização e ainda enviou a foto da fachada do motel por WhatsApp. Edna pegou a bolsa e o bastão de beisebol da Gabi. O cafajeste não se prestara nem a ir a um motel mais distante da sua própria casa. O endereço ficava a menos de vinte minutos de onde sua família morava. Mas não é que o despacho da Soraia dera certo?
Segurando com força o bastão, Edna fez uma promessa para si mesma antes de sair de casa. O marido e a amante iriam morrer.