Chapeuzinho na cidade.
Após o pai de chapeuzinho ter duramente enfrentado o lobo-mal, e colocado uma pedra dentro do estômago da fera, o assunto deu-se por encerrado. Chapeuzinho estava salva, e a paz quase voltará à sua casa, se não fosse a vovó, ter ido morar com os pais de chapeuzinho. Vovò até recontava a história do lobo, insistia que chapeuzinho já dominava a fera, e não precisava da intervenção. Após muita discussão, e intromissão familiar, a mãe de chapeuzinho foi embora de casa, e as crianças ficaram com o papai. Não demorou muito, já havia madrasta na casa. Chapeuzinho ajudava a cuidar de seus irmãozinhos; inclusive do recém-nascido. Agora todos mudaram para uma cidade grande, ali, havia trabalho e chapeuzinho também teve a chance de ir para escola. Assim, a garotinha ficava meio período na escola e meio período em casa, onde ajudava exaustivamente na limpeza do lar.
A madrasta logo deixou de chama-la de chapeuzinho, agora, era conhecida por Flor. A megera madrasta, já por adiantar, fazia dois turnos, começava a trabalhar as 7 da manhã e ia até as 22 horas da noite, então, flor, apesar de seus 13 anos, era quase a mulher da casa, cheia de responsabilidades já se acostumara com o corre-corre da cidade grande e organizava tudo em seus mínimos detalhes; a adolescente não teve oportunidade de seguir os caminhos naturais. Coitada jovenzinha!
Um dia seu pai resolveu mexer no jardim, e foi logo na flor mais bela, deflorou insinuando um pique esconde, a flor não era mais a mesma, a menina queria proteger o jardim, ficou com medo, pensou em até procurar o lobo-mal; mas este já tinha outros compromissos, agora era guarda-costa da vovó. Assim, Flor não pode proteger o jardim, e todo dia a pai molestava, querendo sentir os diferentes perfumes de forma a venturar-se meio a Flor que ali crescia. Houve um tempo que o lobo-pai trazia doces, aos montes, para os irmãozinhos de Flor, deixava-os na sala, trancafiados, enquanto deflorava a rosa mais linda, que em lágrimas sentia-se o orvalho escorrendo em suas pétalas. O pai não perdoava, e a coisa ficou séria, até a madrasta agora era cúmplice, daquela desgraça. Deixava-se trancar com as crianças enquanto o velho no jardim fuçava, como porco, como bicho, como monstro, como verme.
Flor, um dia na escola toda incomodada, não quis ir embora, pôs-se a chorar, e em pranto foi questionada, sua fotossíntese estava atrasada há três meses; a menina, em portas fechadas, contou tudo a diretora, coordenadora, que em desespero prontificaram a ajudar. Ligaram para o Conselheiro, que logo prontificou-se a ajudar, chegaram conselheiros de todo lugar, naquela tarde, nenhuma criança voltou ao lar, somente pai e a madrasta, esperam o julgamento. Mas ambos afirmam serem bons jardineiros. As crianças, hoje, fazem parte de um novo jardim, cheio de crianças, esperam que alguém, algum dia possam percebe-las e num ato de amor, com a mais linda flor possam se presentear.