Neurastenia.
João era um trabalhador comum.
Tinha trinta anos, uma mulher e dois filhos.
De segundo a sábado João acorda à cinco e meia da manhã pra entrar uma hora depois no seu trabalho. De sábado é melhor. Diz João. Saio mais cedo.
Se você perguntar a João se ele gosta de trabalhar ele não vai saber responder. É o que ele faz. É o que ele sempre fez. Após um breve período da primeira infância, João foi para a creche municipal, já que seus pais tinham que trabalhar. Com treze anos ele mesmo já trabalhava. E o faz desde então.
Joao não sabe se gosta de trabalhar por que não conhece uma vida sem trabalho. Não sabe o que é ócio. Seus momentos livres são usados pra comer, dormir, ajudar nas tarefas domesticas e, no fim de semana, ir no boteco do Walter com alguns amigos pra tomar uma cerveja.
Uma segunda feira João morreu. Sua mulher chorou, já que ele não tinha seguro de vida. Os filhos não sentiram muito. João era tão ausente em casa que para as crianças não teve tanto impacto sua morte. Os colegas de trabalho lamentaram o fato na terça-feira. Na quarta discutiam o campeonato brasileiro.
Se perguntassem pra João se ele gostava de viver, acho que ele não saberia responder.