Ziguezagueando 30
O impasse da problemática vivida pelo homem e mulher deste início de século, não é a do desafio de ser o melhor na conquista pelo dinheiro, poder, exploração da inteligência, perspicácia para entender e jogar nesta aventurar que é o viver. Passaram desta fase, estão agora expostos ao desafio de viver e deixar o outro viver no relacionamento, sem se desaguarem no manancial inóspito dos detritos tóxicos, o restolho das ações de que participaram, ou poderão participar em potencial , caso elejam como subterfúgio para o desgaste do amor e da estima recíprocas.
O tempo tem seus aliados, que vivem encobertos junto a realidade imanente, coisas do devir, fora do alcance do homem, que vive no agora, do agora, para o agora.
Somos reféns dos resultados, que somente a mudança revela. O novo, este que está no futuro, resguarda no antes, na autoria e na vontade humana, então irrevelada, para se apresentar.
Não há outra forma, respirando, obedecendo o viver, no segundo após o outro, não tem outra saída.É sair para o agora e aprender a arte do Ser paciente e humilde para consigo, para assim amenizar os efeitos do participar do sofrimento do mundo, que é inarredável, tornando-nos compassivos, tolerantes, promotores da esperança, catalizando o amor e a paz em prol do coletivo, e de nós.
Para que se revele o que é nós mesmo, para nós e para o outro, quem somos, através das ações que passam serem manifesta em sua pureza, como o revelar do pincel na mão do artista, o canto na voz do cantor, as palavras pelo trovador, demanda coragem, paciência, um tremendo esforço para o desapego, a capacidade para transcender previsibilidade e expectativas, encampando o lugar sobre as correntezas mansas e pacificas do fluxo do amor divino, fazendo o que se tem a fazer, e nada mais.
Jovita e Hugo, estavam há mais de década neste massagear dos espíritos que portavam, a quatro mãos. Mesmo não se prendendo permanentemente um ao outro pelos seus corpos físicos, estabeleceram um código de acesso para continuarem sendo parceiros um do outro na fazedura do agora por cada um.
Jovita, mais amena das ações masculinizadas, tinha Hugo sempre lembrando-a, trazendo á tona a mulher, o feminino, que não se revelaria de outro modo. Em contrapartida, refletia nele e por ele o lado que o completava, em acolhimento, profundidade e expansão ilimitadas. Tornando-os Uno.
Hugo e Jovita, no silêncio dos dias, foram se assimilando, como a luz do sol para a planta na produção da fotossíntese, a polinização pelas plantas, por intermédio do vento, a migração da areia do Deserto de Saara para a Floresta Amazônica, e dos pássaros para o acasalamento.
Interessante foi a abstração rica em significado feita pelo filósofo Nietszche, tratou destas duas facetas, masculina e feminina no ser homem, fez paralelismo com o que a cultura Grega deixou de melhor, enalteceu em seus pensamentos a criatividade e a beleza que aquela civilização teve em articular estas duas forças. Pela mitologia.
Nit, chamou de Apolíneo(relativo ao deus Apolo), o princípio que representa a razão, pode ser apontado como o masculino, beleza harmoniosa, comedida e organizada. E dionisíaco(relativo ao deus Dioniso), feminino, o princípio que representa a embriaguez, o caos, a falta de medida, a paixão.
Concluiu que estas duas forças são opostas e decisivas para o desenvolvimento da capacidade artística. Para ele, elas devem ser articuladas, num entrelaçamento consentido na psique, na mente. De um lado, o princípio dionisíaco nos dá o princípio criativo, de outro, o apolíneo, nos dá a ordem e a harmonia necessárias para a produção de algo belo.
Este grande homem do pensamento universal teorizou: É a arte com suas forças da criação que nos fez plenamente humanos, que nos dá a chance de produzir a nossa própria vida, construindo o que somos na medida em que vamos seguindo no agora.
Hugo e Jovita estavam sendo matéria prima em reciprocidade para irem criando o modelo de Homem e mulher de que necessitavam, para se convencerem do que eram, dando sentido a própria vida.