LAÇOS DE AMOR

Ligadas de corpo e alma pelo cordão umbilical, formadas a partir de um único zigoto original e dividem a mesma placenta, mas com gestos e atitudes diferentes. São as três irmãs Mayra, Dayra e Kayra. Elas deviam ser idênticas, um caso raro, mas uma delas não é idêntica, é diferente em tudo...

As três irmãs tiveram uma infância difícil, nascidas de uma família de poucos recursos financeiros e de pequenas oportunidades na vida. O pai morrera em um acidente de Kombi, quando elas ainda eram pequeninas; sua mãe, mulher determinada, sustentava a casa sozinha, com a venda de doces e outras iguarias da região, moravam em um casebre humilde, no sertão do São Francisco. Mayra e Dayra eram idênticas fisicamente: Pele fina e rosada, olhos verdes, que até parecem pedras de esmeraldas, cabelos negros encaracolados, corpo magro e esbelto, as duas sempre foram consideradas pela vizinhança, duas princesas, de tão belas. Porém elas tinham personalidades diferentes: Mayra tinha um gênio difícil, era ambiciosa, chegando a ser cruel. Enquanto Dayra parecia simpática, vivia sorrindo à toa, não se preocupava com nada na vida. Já a Kayra era diferente em tudo, sempre foi considerada pelas irmãs o patinho feio da família, não parecia em nada com as outras duas. Ela nasceu muito doente, demorou muito para andar, puxava um pouco da perna direita; se sentia rejeitada pelas irmãs, que a apelidava de manca; ela tem a pele morena clara, face angelical, olhos amendoados e cabelos crespos, mas de uma inteligência notável e de personalidade impressionante, boa por natureza, muito determinada, portadora de perseverança e força de vontade. A mocinha, tanto nas tarefas escolares, quanto nas atividades doméstica se saia de maneira exemplar. As três estudavam na mesma escola e na mesma série. E Kayra tinha trabalho triplo, pois realizava as suas tarefas escolares e as das irmãs, enquanto as duas ficavam sonhando acordadas. Assim, os dias aconteciam entre altos e baixos...

As garotas tinham sonhos a realizar: Mayra queria ser modelo, morar em Londres e brilhar nas passarelas; Dayra queria ser aeromoça, voar pelo mundo à fora; Kayra queria ser médica, simplesmente para salvar vidas e ajudar sua mãe no orçamento mensal.

Um certo dia, uma tragédia marca para sempre a vida das três irmãs... Em uma noite chuvosa, de luar argênteo, as estrelas nem apareceram, mas o vento sobrava impetuoso em todas as direções. A Mãe das garotas, Dona Anunciada, pediu para Mayra fechar as janelas, pois a chuva estava molhando o piso da sala.

- Mayra, minha filha, feche as janelas, por favor! A Mãe pediu-lhe sorridente.

Mayra não saiu do lugar. E respondeu-lhe rudemente:

- Eu tenho mais o que fazer Mamãe! Mande Kayra fechar, ela é quem gosta de ser boazinha.

Não precisou nem a Mãe falar, pois Kayra levantou-se da poltrona, deixou de lado os livros da escola e calmamente fechou as janelas e portas de todos os cômodos da velha casa. Subitamente, a forte ventania abriu-as novamente, a chuva adentrou na sala, onde Mãe e filhas estavam conversando, deixando o ambiente muito frio. De repente o tempo escurece, nuvens negras se formam no céu, os raios cortam o horizonte de norte a sul, é sinal de tempestade. Dona Anunciada tem o semblante de preocupação, pois a casa é velha e ela teme pelo desmoronamento de paredes e vigas. Um som estridente, acaba com o sossego daquela família. Dona Anunciada vai logo falando:

- Filhas, procurem abrigo em lugar seguro, que temo pela nossa segurança. Mal termina de falar; a viga de sustentação do teto da sala desaba completamente. O terror toma conta daquele lugar. Era um cenário de tristeza e dor. O telhado vai ao chão, atingindo tudo e todos; por lá só predominavam o choro e o desespero entre os presentes na sala... Kayra desperta do breve desmaio, ainda atordoada pelo terrível acidente, olha para todos os lados à procura da Mãe e das irmãs, nos escombros; a poeira dificulta sua visão, impedindo-a de ver nitidamente. Observa sangue em sua blusa, uma ardência no sobre cílio direito, é um pequeno corte. Assim, grita muito alto pela Mãe e irmãs:

- Mamãe, Mayra, Dayra onde vocês estão?

Mas o silêncio predomina e, ela pôs-se a chorar.

Logo, ouviu um gemido, como se alguém estivesse sentindo dor. Kayra olha fixamente e avista de longe Dayra embaixo da poltrona à sua frente. Aproxima-se rapidamente e diz:

- Dayra, você está bem?

- Estou sentindo-me tonta, tenho uma dor forte no ombro esquerdo e um corte na testa. Disse-lhe Dayra

Kayra levanta o sofá, tenta ajudar a irmã que está bem machucada, porém consciente. Fica indecisa, se deve procurar a Mãe e a outra irmã ou se vai em busca de socorro. Mais uma vez percorre o local com o olhar e, avista sua Mãe desacordada e próximo a ela está Mayra e percebe um pedaço de viga em cima da irmã. Grita mais alto que pode:

- Socorro... socorre, por favor nos ajudem!

Os vizinhos correm para socorrê-las e, chamam o serviço de urgência. Logo, o Corpo de Bombeiro chega, fica constatado, imediatamente, a morte de sua Mãe, Dona Anunciada. As irmãs são socorridas para o hospital mais próximo. Kayla recebe os primeiros socorros ali mesmo. Ela permanece quieta chorando, pela morte precoce da Mãe, não entende ao certo o que aconteceu. Sabe que precisa ser forte, tem que tratar do funeral da Mãe. Naquele momento sente um vazio imenso, um aperto forte no peito, quase não consegue suportar a intensa dor. Quem ela mais amava na vida se foi, agora já não está ao seu lado. A garota grita muitas vezes, até adormecer entre os escombros. Desperta com o alvorecer do dia, está se sentindo péssima, porém precisa tratar do funeral da amada Mãe. Após o sepultamento vai ao hospital procurar notícias das suas irmãs... Chegando lá, ela fica sabendo que uma das irmãs, Dayra, vai receber alta, naquele dia. Porém Mayra não teve a mesma sorte da outra. A médica plantonista vem falar com ela e, diz que sua irmã, Mayra, se encontra tetraplégica. Kayra sentiu o chão se abrir, não tinha domínio das suas emoções, pôs-se a chorar desesperadamente, sua irmã tão linda acometida por uma fatalidade terrível, nunca mais ela será a mesma. Ela agora, mais do que nunca, vai precisar de coragem, perseverança, força de vontade, determinação para ajudar a irmã.

Os tempos se passaram... Dayra e Kayra continuaram seus estudos até se formarem. Kayra assumiu totalmente a irmã, Mayra, ajudando-a nesta difícil missão. Dayra se casou, teve filhos e foi viver com sua família longe dali. Ela não conseguiu realizar seu sonho, de ser uma aeromoça; formou-se em magistério e foi ensinar, porém era feliz. Já Mayra ficou totalmente dependente de Kayra, tinha uma vida limitada de casa para o hospital, seu sonho de brilhar nas passarelas, também não se realizou. Enquanto Kayra adotou a irmã tetraplégica, em carinho e amor como se fosse sua própria filha. Agora, são os LAÇOS DE AMOR que unem as três irmãs. Somente Kayra consegue realizar seu sonho: é uma médica ortopedista renomada e, ajuda os pacientes com paralisia, a terem uma condição melhor de vida. Ela nunca se casou; a dedicação que tinha pela irmã era exclusiva, quando não estava no hospital, estava na companhia da irmã, cobrindo-a de carinho e proteção. A garota que antes era considerada, o patinho feio da família, hoje, brilha nos corredores do hospital e ama incondicionalmente a irmã.

A Vida é um gigantesco Veleiro à procura de um Porto Seguro.

São tantas vidas ligadas, pelos Laços de Amor...

Elisabete Leite – 25/05/2018

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 06/07/2018
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