A nuvem

Chandra era uma mulher morena e bem magra, eu não sabia sua idade, parecia jovem, e ao mesmo tempo mais velha, bem conservada, inteligente, madura e calma. Instrutora de ioga, nos conduzia pacientemente pela hora completa de prática. Parece que era Hare Krishna, mas não tenho certeza, apenas inferia isso, porque seu marido aparecia no local com roupas largas e cabelo raspado, tendo apenas um rabinho de cavalo comprido, e bem amarrado. Seu nome não era Chandra, depois descobri que era Izabel Aparecida de alguma coisa, e agora era Chandra Lakishimi Mandir, acho que era isso.

Em nossa primeira aula senti muita dificuldade, acho que eu era o único novato, todos conduziam bem os movimentos, parecia até uma coreografia. Eu envergonhado, dizia a mim mesmo, “Que coisa difícil!”. De vez em quando Chandra dizia: “respirem pelo nariz apenas”. Dois minutos depois disso, pós grande esforço numa posição que não lembro o nome, lá vai eu soltar um grande suspiro entre os dentes, “fuuu”. “Não respirem pela boca, só pelo nariz. Assim perde o prana.” Disse ela. Eu não sabia que danado era esse prana, e me senti culpado. “Acho que não vou conseguir”.

Já cansado e suado, Chandra nos coloca para sentar sobre os “ísquios”, e eu, “que danado é ísquio?”, para meditar. Seguindo os demais, vi que era apenas sentar-se no solo de pernas cruzadas. Com sua voz sempre suave, Chandra pediu para que fechássemos os olhos e relaxássemos, imaginando uma nuvem branca no céu. De repente, num milésimo de segundo lá estava eu. Ah, essa nuvem! Foi o que me salvou naquela tarde de exercício. Transmutei-me para um mundo onde eu era ar, e observava a nuvem no céu, sendo que eu era o céu e também a nuvem, e mergulhava por ela como se mergulhasse em milhões de travesseiros de algodão, e senti todo o conforto da vida.

A nuvem e a voz de Chandra me conduzindo pelos ares. Eu não era mais eu. Não existia uma personalidade cujo um dia nasceu de um útero, e viveu anos da vida em busca de si mesmo, pois si mesmo não existia. Talvez aquilo fosse o prana, e talvez eu não o tenha perdido tanto assim no meu grande suspiro. Graças àquela nuvem que me salvou. Fui redimido na nuvem.