1054-PODE LEVAR:O PROJETO
Bilhetinho encontrado na caixa de correio de minha residência, em 22 de fevereiro de 2017:
“Bom Dia.
Estou enchendo a minha casa com suas plantas.
E os meus olhos com seus contos.
Obrigada
Leda “
Outro bilhete que encontrei em 28 de abril de 2018:
“Obrigado pelas mudas
Júlia e Fabiana”
Carta sem data, que encontrei na caixa de correio, digitada em computador e impressa em papel A-4, dentro de envelope branco, sem meu nome nem do remetente:
“Senhor Antônio:
Tentei por diversas vezes encontrá-lo nos momentos em que coloca livros, revistas e mudas de folhagens encostadas na grade de seu jardim, sob o cartaz “PODE LEVAR”. Como passo aí só pela manhã, indo para o trabalho, ainda não coincidiu encontrar com o senhor.
Já levei diversos livros escritos pelo senhor, cujos contos li com rapidez, pois suas histórias, inventadas ou reais, me prendem e só consigo parar quando acaba o conto.
Só não levo as mudinhas de folhagens (na mais das vezes são mudas de “coração partido”) porque moro com meus pais num pequeno apartamento e não tenho como cultivá-las.
Lendo as histórias, os causos e os contos, despertou-me uma vontade de também escrever. Não estudei em faculdade, só terminei o curso fundamental e tive que trabalhar para ajudar nas despesas da família de meus pais, com quem ainda moro.
Tenho um emprego em um escritório e gosto de escrever, sendo que as cartas a serem escritas e as respostas das recebidas, são escritas por mim, com orientação, claro, do gerente do escritório.
Aliás, quando frequentava o fundamental, eu era bom em redação e em português, matérias que me salvavam das outras que não gostava de estudar.
Já tentei escrever alguma história mas é difícil começar. Estou entusiasmado com a maneira que o senhor escreve: é tão fácil de ler, e os assuntos são muito variados.
Semana passada me encontrei com um idoso ai no local do “pode levar” que disse ser seu vizinho e que me deu algumas informações a seu respeito: que começou escrever aos 65 anos, que é bancário aposentado e que nunca frequentou universidade. É verdade?
O senhor sabe de algum livro que me oriente a escrever histórias, por mais simples que seja?
Não quero perturbar o senhor, mas desejo conhecê-lo e, se possível, fazer algumas perguntas ou conversar sobre os contos e esta ideia maravilhosa de colocar seus livros, mais as mudas de plantinhas para os passantes levarem.
Aquele senhor que já mencionei acima me disse que de vez em quando o senhor coloca revistas, livros de outros escritores e até alguns brindes. É uma ideia fantástica!
Desculpe-me se estou lhe incomodando. Não tenho seu telefone, mas se o senhor puder falar comigo o meu celular é ...... (*).
Muito obrigado por ter lido esta carta até o fim.
(assinado) José da Silva. “
(*) não posso revelar, por motivos óbvios, o telefone do missivista.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 4 de maio de 2018
Conto # 1.054 da Série INFINITAS HISTÓRIAS.