Temporalidade
Na soleira, em meio a neblina e ao frio da manhã, ele acordava todos os dias no mesmo horário, com um sorriso no rosto. No chão frio, com suas poucas roupas, a proteção da marquise e o papelão como teto compunham o seu precário cenário.
Cobertas e roupas limpas e bem dobradas, um cuidado impecável em ver que tudo estava na mais perfeita ordem. Sua determinação me contaminava e seu sorriso era sinal de um bom dia.
Com seu corpo pequeno, olhos atentos, gestos precisos, quem o visse de longe podia afirmar que aquele homem tinha um objetivo, aquela era somente uma situação temporária.
Acordava todos os dias pensando em seu bom dia, em como estaria naquela manhã. Dias de chuva, frio intenso, mas sorriso intacto. Como poderia eu, recém-saída de minha cama e café quentes, não me sentir triste em me deparar com ele todas as manhãs?
Mas o café com leite quente e pão não mais o encontraram em sua soleira. Seu trajeto desconhecido ainda atrai o meu olhar. Todos os dias, seu bom dia expresso no sorriso e aceno de cabeça me acompanham.