FORMOSA
Morava em um palacete ali na Glória. Casa de contornos renascentistas e luminárias art nouveau vindas de uma demolição em Portugal. As janelas abissais abrigavam pesadas cortinas de veludo vermelho que contrastavam com os arranjos florais repletos de verdes. Sentada diante do espelho veneziano via sua imagem refletida no centro da cena, a pele preta acetinada contrastando com as paredes ancestrais. Ajeitava os fios crespos com seus dedos longos, ora desenrolando os miúdos cachos, ora apalpando e modelando o cabelo bem redondinho. Dividia-o, então, de lado, formando um caminho de pele fina e clara tal qual uma fita de seda. Prendia uma das partes com grampos e sobre ela punha um laço encarnado. Gostava de sentir os fios macios entre os dedos como se fosse aquele algodão doce vendido na praça do centro da cidade. As pontas descoloridas davam mimosas voltinhas, verdadeiros arabescos, ornando-lhe a cabeça. Os brincos eram duas pepitas brilhantes que luziam ao encontro da luz. Olhou- se mais atentamente como a procurar o toque final, terminou com um batom que era só um leve brilho. Sorriu aprovando o que via. Achou-se formosa.
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