O cheiro cinzento
Nunca me pareceu tão azul os sinais vermelhos e amarelos.
Sinto o cheiro verde misturado ao café espesso em minhas papilas
O cinza, tom de saudade entranhado no marrom de minhas raízes se tornam uma linda palheta de laranja e anis como verdadeira trepadeira em meu arranha céu de outrora
Olho o elevado que se inicia na avenida que tanto passei lá em cima os automóveis imóveis, o tempo paralisado frente aos desejos que vemos explícitos em outdoors
A placa diz campinas, as belas campinas que a mim só se apresentaram como ruas caóticas, noites insanas e o velho desejo do mar a me rondar
Visões nostálgicas me tomam, sinto o medo do corpo peso
Sinto a culpa do corpo nu entregue a cama do quarto vazio com cheiro de pecado e morte
Sinto o corpo que me pede o corpo entregue a outros corpos
A noite escura, no breu de meus desejos mais perversos
Os olhos que veem por de traz das cortinas da velha casa onde as almas se soltam na dança das energias depravadas
Ao fim do corredor é entregue o cálice do elixir que cala
Passa garganta adentro, desce por meu tubo digestivo,
Escorre e me mata.