Sol Poente

Todos os dias ele sentava-se no mesmo banco da praça. Olhava o sol desaparecer por trás do prédio. Logo, a noite se deitaria por sobre a cidade. Os sons das buzinas e dos motores do carros aumentavam consideravelmente, mas ele gostava de ficar ali olhando o movimento. Lembrava dos tempos que tinha a companhia dela. Andavam de mãos dadas pela praça, o cãozinho amado os acompanhava no passeio diário.

Fazia dois anos que ela se fora e seis meses que o cachorrinho também morrera.

O sol já se escondia atrás da edificação... Aos poucos, as lâmpadas dos postes iam se acendendo.

Ela contava uma por uma, todos os dias... Pensou.

- Anita gostava de voltar para casa, só quando o sino da matriz anunciava a missa das seis! Contou para a moça sentada ao lado, que tinha os olhos fixos no celular.

Eram tantas lembranças... Os dias no consultório, o tempo que estudou no exterior, as cartas que trocaram naqueles anos... Seis anos de namoro por cartas.

- Ela me esperou!

Já não sabia se vivia o que tinha para viver ou se relembrava os tantos momentos vividos nos sessenta anos que ficaram casados.

Chegou aos noventa anos, quem diria! Nunca pensou que iria depois de um dos filhos, da esposa, do cachorro e até da criada que serviu sua casa desde as núpcias.

A atual empregada era atenciosa, gostava de conversar (principalmente ao celular) mas ele preferia que ela gostasse de escutá-lo. Tinha tantas histórias, tantas memórias!

- Vamos Dr. Jayme? Já está na hora de jantar.

Ele se levantou devagar, a moça guardou o telefone num dos bolsos do avental e segurou o seu braço para ajudá-lo a caminhar.

Olhou pela última vez o banco, a praça e a noite naquele lugar.

Cláudia Machado

20/6/18

Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 20/06/2018
Reeditado em 22/06/2018
Código do texto: T6369601
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