O CEGO E O LEITE
Tenho passado os últimos dias a escrever fábulas jurídicas, nas quais a cada dia acredito menos.
Vez ou outra entro na internet, para ler postagens de amigos.
Dias desses um deles comentou na rede sobre a licitação do exército brasileiro para comprar artigos e comidas de luxo: lagostas, vinhos, peças de decoração, etc.
Meu amigo disse pouco.
Apenas citou um trecho de uma canção de Caetano Veloso:
"Alguma coisa está fora de lugar".
Foi o que bastou para despertar a ira de uma senhora, que entre outras coisas disse: "não consigo compreender como uma pessoa tão inteligente pode ser a favor do Lula e do PT".
Ela acertou a primeira frase: meu amigo é inteligente.
Extrapolou no restante: não consigo compreender como ela deduziu do citado trecho da canção do Caetano qualquer relação com o Lula e o PT.
A citação remeteu-me a um comentário no livro "Os limites da Lei", de Scott Turow, publicado em 2010 pela Editora Saraiva:
Diz o autor:
"Não existe liberdade que não seja também um caminho para o vício.
A internet dera origem a comunidades desafiadoras de lunáticos que antes se reuniam secretamente, em envergonhado isolamento, com suas inquietantes obsessões." (página 24).
Em minha comunidade na internet denominamos essas pessoas de "cães raivosos" ou "cachorro louco".
Escrevem textos dogmáticos, (não são racionais, nem sequer conhecem o assunto do qual estão falando), andam em linha reta, não olham para os lados, (da mesma maneira que se comportam os cães doentes de raiva enxergam um mundo dualista, em preto e branco), e se fosse possível enxergá-los além do texto que escrevem veríamos olhos vermelhos injetados e babas espumantes escorrendo dos lábios.
Mas e o conto?
Cadê o conto que prometi na classificação deste texto?
Ele vai a seguir e peço que opinem se tem ou não algo a ver com o que comentei acima.
Conta-se que certa vez, pediram a um renomado físico que explicasse em simples e breves palavras a teoria da relatividade.
____ Em simples e breves palavras para quem nunca estudou física? Bem - disse ele - posso tentar.
____ Um dia, senhores, sai para passear com um amigo cego. Após alguns passos, eu disse que gostaria de beber um copo de leite.
____ Leite ?... Perguntou o meu amigo cego - Sei o que significa beber, mas não sei o que é leite, será possível me explicar.
____ É um líquido branco, respondi.
____ Líquido eu conheço - disse o cego. - Mas branco, o que é?
____ Branco é a cor das penas de um ganso.
____ Penas eu sei o que são. Mas ganso, o que é?
____ Ganso, ora, não sabe o que é? É uma ave de pescoço torto.
____ Pescoço eu conheço. Mas torto, o que é?
Foi então que o físico perdeu a paciência - Segurou no braço do cego e endireitou-o, colocando-o em linha reta dizendo:
____ Isto é reto.
Depois curvou os cotovelos do cego e acrescentou:
_____ Agora seu braço está torto. Isto é torto.
____ Ah !! .... Exclamou o cego triunfante. - Então já sei o que é leite...
Acho que o mesmo pode ser dito das pessoas que falam daquilo que não conhecem e não compreendem: como rito processual, princípios do direito, prova e dogma, comportamento de ministros, decisões econômicas e outras coisas que estão muito além da sua inteligência.
Cada qual tem sua opinião e posição política, mas se quisermos manifestar-nos sobre elas, façamos racionalmente e com educação.
Se você leitor ou leitora, se identificou com o cego... tá na hora de buscar ajuda profissional.
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Obrigado pela leitura; fiquem com Deus.
Sajob, junho de 2015 + 3