INTERIOR

Ando cansada, com medo, confusa. Minha vida parece desbotada, sem graça e sem brilho. O que me causa tanto espanto? As pessoas, o sistema, o país no qual habito? Não, não mesmo. O que me causa tanto desconforto é o casulo que me envolve e não consigo desprender. Quanto mais me fecho dentro de mim, assim como uma concha, mais não sei o que sou ou quem sou. Olho e não mais me enxergo. Parece mecânico meus dias. Tenho medo de ser só mais uma que passou. Esquecida como um trapo velho no fundo de um baú, relegada ao ostracismo. Às vezes tento ir ao meu interior com portas fechadas por dentro, não consigo abri-las por mais que façam parte de mim. Será que eu também estou esquecida de mim? Onde me encontrar? Onde achar o que perdi? Por onde andar, se até de meus passos me afasto? A noite é minha inimiga, dançam fantasmas a minha frente, se está mais escura e não vejo o brilho da lua ou o lampejo de um relâmpago, me mortifico a procura da luz que será minha salvação. Em vão meus olhos se afundam na escuridão, ouço o farfalhar do vento, sons estranhos a me perseguirem, tento simplesmente gritar, não sai som algum, minha voz fica embargada pelo medo. Durmo um sono agitado e acordo no meio da noite. Olho o relógio, parece uma piada de mal gosto, mas percebo que dormi somente meia hora. Agora é esperar o dia nascer e recomeçar tudo do dia anterior.

Vania Morais
Enviado por Vania Morais em 15/06/2018
Código do texto: T6365543
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