SOB OS AFRESCOS DO EX -SUBMARINO “ VERDE-AMARELO”
Naquele dia, o cenário da cidade já trocava suas luzes do sol brilhante dum dia quente de primavera pelas luzes artificiais da noite calma que caia.
De repente, dentre tantos novos conhecimentos dum velho mundo de respeito histórico bem voltado para O TODO de si mesmo, a fome, algo fisiologicamente igual que acontece com todos os cidadãos do mundo, já reclamava em borborigmos pela refeição do dia.
Então, apenas para uma breve alimentação corriqueira ou um sagrado copo de água potável, perceberam o quanto a moeda dum país fala sobre si mesmo, através do todo do lastro sócio-econômico que ela significa.
Nos estúdios dos quatro garotos, os que um dia acreditaram que era preciso cantar, tocar , acreditar e IMAGINAR, pareciam voltar ao tempo, ato contínuo a ensinar que tudo que se precisaria pelo porvir do PLANETA seria duma boa dose amor a se brindar numa necessária viagem por algum submarino amarelo.
Afinal, “ we all live in a yellow submarine”, e sob o mesmo mar...não é mesmo?
De lá de dentro, em breve eles voltariam às calçadas do hoje, para a realidade desse mesmo mundo que muda apenas nos cenários superficiais montados aos olhos distraídos às diferenças do todo.
Todavia, a passear pela redondeza, era possível a magia de se ouvir pelos ares o espargir das notas duma sinfonia erudita a se mesclar às dos perfumes exalados dos jardins dos parques, sem se correr o risco de assaltos a mão armada, ou de bullying da hegemonia cultural vigente sobre o direito legítimo de ainda se apreciar um genero musical mais clássico, ainda que não politicamente correto às horas fashions de algum espaço degradado socialmente pelo pensamento imposto.
Deram umas voltas pelos quarteirões da gastronomia local , no sufoco dum bolso desvalorizado a um quinto do trabalho honesto de cada dia, o realizado num chão escravagista para o sustento duma corrupção multiplicada há séculos, e então eles se surprenderam com uma casa a moda gastronômica “BEM BRASIL”, ávidos que estavam por uma porção de ”arroz com feijão”, a dupla em poção mágica salvadora de todas as Pátrias, o tal do delicioso “Baião de Dois” que outrora prometia a solução alimentar de “celeiro ao mundo” para a crescente geografia da fome planetária dos bastidores apertados, mas que hoje sequer sustenta a si mesmo.
Logo na entrada a língua mãe gentilmente lhes recepcionava e lhes oferecia o menu principal do badalado país de ex –submarino
“verde-amarelo”...
Era como se sentir em casa, disseram-me eles.
A ambientalização chamava a atenção: era feita artisticamente com belas telas em afrescos que cobriam todas as paredes e tetos da casa gastrônomica, com cores tropicais fortes e alegres, aonde imediatamente se reconhecia as casinhas auto-construídas nos morros barsileiros, ali a ilustrar o concentrado de comunidades da dita cidade maravilhosa. O visceral e belo samba de raíz contrastava os caminhos ali até então percorridos.
Nenhum tiro se ouvia, nem ali nem nos arredores, a não ser os que ocultamente se carrega perdidos nos corações dos que conhecem a História por trás da beleza e do marketing das telas pintadas; e logo depois fariam a constatação de que os preços dos pratos da sua terra eram DUZENTOS E CINQUENTA POR CENTO mais caros que a comida turística do local.
Ali se concluia a identidade BEM BRASIL inequívoca da cultura equivocada dum povo a ser mostrada às vitrines do mundo e tristemente relembrada aos seus conterrâneos.
Desistiram do “baião de dois” que ficaria para ser devorado na volta, “ in loco”, com toda a fome crescente de cidadania do mundo!, tão cedo se normalizasse a perdida logística do RUMO TODO PERDIDO, o do seu desnorteado submarino verde-amarelo.
Soube que, apesar do visto e vivido , eles ainda eram DREAMERS e seguiram- a risca!- os ensinamentos gritados pelos meninos de Liverpool.
"IMAGINE ALL THE PEOPLES..."
E sei que, assim com eu, não eram os únicos: um país inteiro “WOULD IMAGINE! com eles.
Então, conto que me disseram que juntos voltaram a imaginar e a sonhar em silêncio:
“BRASIL, ALL WE NEED IS…ALL….”