A Entrevista

Juvenal Feres não tinha nada contra psicólogos homens, mas não gostava de psicólogas mulheres. Sempre que encontrava uma, se dava mal. Ele estava desempregado há 2 anos e vivia da mesada da mãe, dona Florinda, que lhe cobrava, com veemência, que ele arrumasse um emprego. Juvenal não aguentava mais morar com sua genitora, mas não tinha para aonde ir. Com 300 reais mensais não dava para morar sozinho, nem em sonho. Juvenal Feres estudara nos melhores colégios cariocas e era formado em Estatística pela PUC carioca, mas não conseguia emprego em sua área. Como era bonito, alto e tinha apenas 21 anos, tentou ser modelo. Não deu certo. Para modelar não basta só a beleza física. É preciso ter também vocação e carisma, e Juvenal Feres não os tinha. Após sepultar de vez as esperanças na carreira de modelo, devido aos inúmeros “nãos” que recebeu, o estatístico começou a enviar seu currículo para diversas empresas, até mesmo para as que não tinham nada a ver com sua formação, pois o que importava era ver a cor do dinheiro, mesmo que o emprego fosse uma merda. Numa sexta-feira chuvosa de verão, dia 3 de março de 2019 para ser mais exato, Juvenal Feres tinha uma entrevista de emprego marcada, mas não dormira nada. Suas imensas olheiras refletiam sua vontade de levantar da cama: zero vezes zero! Mas sua mãe o incentivou a ir. E ele foi. A contragosto, mas foi. Chegou na empresa quase atrasado. Vestia um terno preto e uma gravata de mesma cor. O emprego era de vendedor e Juvenal achava que bem-vestido podia impressionar o entrevistador. O relógio de Juvenal não mexia os ponteiros, porque era digital, mas para ele a hora passava devagar pra chuchu e isto só o deixava mais ansioso.

Após 25 minutos de espera que pareceram uma eternidade, foi chamado.

Não era um entrevistador que o avaliaria. Era uma entrevistadora: “uma maldita psicóloga.” Pensou Juvenal Feres, bastante irritado com sua “sorte”.

Loira de olhos azuis, corpo de modelo, boca sedutora e voz de sereia. Estes eram os atributos da mulher que podia levá-lo ao paraíso do emprego ou mantê-lo no inferno das reclamações de dona Florinda.

Por incrível que pareça, à medida que a entrevistadora ia fazendo as perguntas, Juvenal ia respondendo com uma naturalidade que nunca tivera antes diante de uma psicóloga. A entrevistadora se chamava Leonora Santos. E além de ser linda, era um doce de pessoa. Juvenal Feres achava que estatisticamente a probabilidade dele se apaixonar por uma psicóloga era zero. Mas neste caso foi 1, ou seja: 100%! (A probabilidade varia de zero a um e quanto mais perto de um maior ela é). Juvenal foi aprovado na entrevista. Conseguiu o emprego de vendedor, numa loja de roupas e equipamentos para surfistas, e também o telefone da bela psicóloga. Mais tarde, descobriu que o nome de batismo da estonteante psicóloga era… Waldemar Ferreira. Mas isto não mudou em nada o sentimento de Juvenal pela linda transexual Leonora Santos. Tanto não mudou que, após seis meses de um tórrido namoro, eles já pensam em se casar e adotar um filho, mas isto já é uma outra história…

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 02/06/2018
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