GERUSTRATUS

Havia em não sei que tempo, um reino muito distante onde tudo era em branco e preto. Branco era o céu, as árvores eram pretas e brancas, as flores, e os habitantes deste reino vestiam-se somente de branco ou de negro.

Tudo era assim, porque nada podia transgredir ao código real que ditava as normas e, que desde sua fundação, era usado.

Entretanto havia neste reino um camponês que tinha um filho de 11 anos, Gerustratus era o nome do menino, o porque deste nome esquisito , nunca se soube.

Desde muito cedo Gerustratus descobriu que tinha certos poderes, mas não podia utilizá-los pois transgredia ao código real, e os transgressores eram severamente punidos. O menino deitava e acordava sonhando em mudar aquele reino sombrio.

Uma manhã levantou-se muito cedo e saiu de casa disposto a mudar alguma coisa, longe dos olhos do pai, é claro. E, usando de seus poderes, deixou o lago negro transparente e colocou tenras e verdes samambaias às suas bordas.

Foi o caos quando seu pai descobriu o feito, como castigo Gerustratus foi trancado num quarto terrivelmente negro. Qual não foi a surpresa do pai, quando no dia seguinte ao libertá-lo, viu que o quarto fora pintado de azul.

Filho, disse o velho: Se o rei souber disto vai nos condenar a morrer na câmara negra.

_ Pouco importa, disse Gerustratus, e saiu em desabalada carreira, e pelas ruas onde passava tudo ia mudando; as casas ficavam coloridas, as flores adquiriram vários matizes. Quando o rei olhou pela janela de seu quarto branco, desmaiou de susto.

Quem havia transgredido ao código real ? Após recuperado pelos médicos da corte, mandou sua guarda branca, procurar o transgressor. E, assim Gerustratus foi levado à presença real. Conheces este código ? perguntou o rei furibundo, apontando para o velho, bolorento e negro código. Sabes o que te espera, serás torturado na câmara negra. E Gerustratus foi arrastado pela guarda. Todavia, onde ele passava ia transformando as coisas, a câmara negra transformou-se no aposento mais luxuoso do castelo. Assim o rei indignado mais uma vez chamou Gerustratus à sua presença e, perguntou: Gerustratus, porque teimas em me desobedecer ?

Não estou desobedecendo a Vossa Majestade, respondeu-lhe o menino, eu só quero inovar e tornar melhor este reino e deixar o povo mais feliz. E, olhando pela janela azulou o céu, dourou o sol, que molhou de luz os aposentos reais. As pessoas olhavam assustadas para suas roupas coloridas, para a profusão de cores que emanavam dos jardins e para um arco-iris num canto do firmamento.

E o rei estático balbuciou: esplêndido.

E tocando o velho e negro código, viu este transformar-se numa bela brochura em vermelho e dourado.

Eu também posso mudar as coisas disse o rei, ao que Gerustratus respondeu:

Todos podem mudar, é preciso ter a coragem de desafiar e começar.