A HISTÓRIA CONTADO DOS MEUS BISAVÔS

Meus bisavôs tinham os nomes João Luiz e Maria Cecilia, nascidos criados na fazenda Olho d’agua na antiga Vila Nova do Espírito Santo ou Vila do Abrantes, Distrito de Camaçari/Ba. Eles cresceram juntos primos por consanguinidade, casaram por amor e gosto da família. O tempo cresceu a família e 13 filhos acompanharam o viver. Todos sabiam a história familiar do “dendezeiro” contado várias vezes por seus pais e eles por sua vez contava a seus filhos e assim a história foi passando até os dias atuais.

Naquela época na metade do século XIX a família rural tinha mais respeito e amor familiar, laço inquebrantável, não havia muito o que fazer e os acontecimentos ocorreram em torno da fazenda e da própria família. Só mudava quando chegava notícias da Capital ou do arraial mais próximo.

A história narrada ocorreu na fazenda quando houve interesse de ampliar o comércio do “óleo de Dendê” ou “azeite de Dendê”, “óleo de Palma” como é chamado, muito natural na Região. Na fazenda havia 2 trabalhadores escolhidos, cuidavam do plantio e extração do óleo e outros 2 para armazenar e vender os produtos, tudo sobre a supervisão de “nhô Zé” o filho mais velho do Bisavô. Neste trabalho de plantio, um dos trabalhadores de nome Faustin tinha por hábito cumprimentar as palmeiras com as palavras: “Salve dendê, bom dia meu irmão. Que Deus a salve.” Todos os dias ele passava no local a caminha do roçado da terra, e fazia a mesma saudação. Certo dia ele caminhando não viu as sementes no chão com as mesmas tonalidades em cores, vermelho, amarelo e preto, assustou-se e olhou para cima e viu a copa da palmeira seca sem vida. Colocou a mão direita no tronco e não sentiu a umidade natural da árvore exclamou “xi, a palmeira morreu, secou” saiu em disparada para contar a “nhô” o ocorrido. No caminho deparou-se com outro trabalhador e contou o que viu em soluços e choro amarrado, deixou o outro e seguiu as pressas para a casa principal. Ao subir as escadas para a porta, escorregou nos degraus e bateu com a cabeça, ficou desacordado, outras pessoas viram e gritaram, todos foram a porta e encontraram Faustin no chão. Colocaram ele no banguê, foi levado para sua casinha e lá Maria Bá deu chá e ele não acordou, mandaram chamar o médico no arraial, chegou tempo depois a cavalo e nada pode fazer: ”A pancada foi forte, parou o cérebro, morreu” disse o Doutor. Ele em vida dizia que ao morrer colocasse semente no seu caixão e enterrasse perto do oiteiro dos Dendês, pedido feito. Dois anos passaram e perto da cova cresceu um novo pé de Dendê. O povo se assustou e ali não mais passou ninguém.

Essa foi uma História familiar contada de boca a boca, sempre é acrescentado ou reduzido os fatos verdadeiro. Naquela época o povo era muito crente e as superstições dominavam o centro das atenções, principalmente na zona rural.

Com a morte de meu bisavô João Luiz a fazenda foi perdendo o interesse dos filhos e netos os que lá permaneceram não deram a continuidade. Venderam e foram todos para a Capital viver a vida agitada com poucos recursos e os descendentes multiplicaram-se sabendo da história do Dendê. Nesta ocasião, um dos parente trabalhou como sapateiro, seguiu a orientação do avô nos conselhos dizia:” Caso não possa estudar, aprenda um ofício e ganhe seu pão de cada dia na honestidade com arte e saber.” Benedito ficou órfão e lembrou dos conselhos do avô Luiz, procurou um mestre sapateiro na Rua da Vala já conhecida como Baixa do Sapateiro. Aprendeu o ofício com muito interesse e rapidez, os vinténs que ganhava ele comprou as ferramentas mandou forjar um martelo tipo corneta, chamado Martelo de Sapateiro gravou as primeiras letras do seu nome no Martelo “BN” conhecido como Bené. A ferramenta muito pessoal, em pouco tempo ele abriu uma porta na mesma rua e foi tocando a vida consertando, fabricando sapato e tamanco. Teve 10 filhos, homens e mulheres dentre eles meu avô paterno Antônio. Benedito ou Bené morreu muito idoso com muita lucidez e recomendou passar o martelo para os seus descendestes como legado. Eu tenho este Martelo, guardo como relíquia familiar. Coloquei cabo de madeira nova já não tinha e mandei polir o corpo de ferro do Martelo. Estou FELIZ EM RECEBER UM PRESENTE ÚNICO FAMILIAR. A PROFISSÃO GERA UMA FAMÍLIA.

A história sempre guarda o passado de alguém.

Batacoto.

08.05.2018

batacoto
Enviado por batacoto em 09/05/2018
Reeditado em 30/07/2018
Código do texto: T6331487
Classificação de conteúdo: seguro