O SEGREDO

Era tão bom. Bom marido, bom pai, bom amigo. Mas, algo lhe dizia que ele escondia um segredo. Desde que se conheceram, tudo correu tão rápido, em pouco mais de um ano já estavam casados, com filho e vivendo numa cidade nova, onde não conheciam ninguém. Ela, às vezes, se pegava pensando a respeito da vida que levava e de como estava entregue a ele que sequer conhecia direito. Aquele homem calado, com ar melancólico, sem parente ou aderente, chegou na cidadezinha dela e arrebatou- lhe o coração. Por sua causa largou o emprego, a família e seguia seus passos de cidade em cidade. Ela não costumava sair para nada. Ele se incubia de ir atrás do pão, do remédio, do serviço. Gostava que ela ficasse em casa, cuidando do neném. Mas, quando a vida urge, as pedras rolam. E foi o que aconteceu quando a febre apertou na criança e não houve remédio que desse jeito. O marido só chegaria à noitinha e a doença não sabe esperar. Pegou o dinheiro escondido na lata, colocou o menino no colo e saiu a caminhar. A casa ficava um pouco afastada do centro da cidade, carro quase não passava por lá, que dirá táxi. Foi andando apressada, cortando caminho nas estradas, o cenho fechado, vendo o tempo escurecer. No inverno, a noite chegava mais cedo. O medo dele não a encontrar só se dissipava quando lembrava do bilhete sobre a mesa. Os pensamentos lhe fervilhavam a cabeça. Foi quando dobrou uma esquina e deu com ele na porta de uma outra casa. E quando já ia lhe chamar, viu saindo da porta uma dona bem aprumada, puxando pela mão uma bonita menina. Ele enlaçou a mulher e a beijou demoradamente como há muito não fazia com ela. Os três entraram porta adentro e ela danou-se a chorar. Depois de medicar a criança, voltou para casa, onde aguardava por ele. Quis observá-lo atentamente e no primeiro deslize, levantaria a suspeita que o faria confessar- lhe a traição. Ele chegou e, agiu de forma absolutamente igual ao proceder de todo dia. Quando soube da saída de emergência, disse: "Fez bem..

saúde não pode esperar" Tomou banho, comeu, brincou com o filho, não fez amor e dormiu. Dia seguinte, tudo foi como dantes. E nos outros também. E não houve brecha para tocar no assunto, em nada ele falhava. Meses se passaram assim e, sem encontrar solução digna da parte dele, que parecia querer sustentar a farsa das duas famílias, ela resolveu abandoná-lo. Logo após o almoço de domingo, assim que ele fosse tirar a sesta, ela partiria, levando consigo apenas o menino e nada mais. Voltaria para a casa de seus pais. Mas, ele pediu que ela caprichasse no almoço do fim de semana, pois eles teriam visita. Pediu que ela o perdoasse pela omissão de tão importante detalhe. Disse que a vida faz coisas que só o amor incondicional perdoa. Ela queria gritar na cara dele que já sabia, mas esperou o domingo chegar para o segredo, enfim, ser revelado. Preparou o melhor guisado e o manjar dos deuses. Vestiu o vestido de festa e até passou batom. E, quando bateram à porta, foi seu coração que saltou. Ele mais que depressa foi atender, lágrimas aos olhos, emoção à flor da pele. Quando ela viu diante de si a verdade, danou- se a chorar e sem palavras ficou. Ele retrucou: _ Eis o meu segredo guardado a sete chaves. O meu irmão gêmeo e sua família que a vida inteira eu procurei e agora reencontrei.

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Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 09/05/2018
Reeditado em 09/05/2018
Código do texto: T6331392
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