A Trilha.

Lorran se perguntava como havia se metido naquela situação, suas calças jeans estavam ensanguentadas pelo sangue de Eduardo, Manoela chorava soluçando agachada entre duas rochas bem grandes, a correnteza do rio seguia indiferente. Danilo fumava seu cigarro de maconha em uma tentativa de fugir daquele lugar. Bruna olhava para o céu e só via árvores e mais árvores se estendendo a sua frente, a impressão que aquela trilha causava era a de que a floresta iria os engolir.

O cheiro fresco da mata se contrastava com o cheiro forte do sangue de Eduardo, o chão estava encharcado pelo sangue do irmão mais novo de Lorran.

_Cara, você tem noção da desgraça que você fez?

_Eu sei Manoela, mas não adianta se desesperar...(Limpando lagrimas que ameaçam sair de seus olhos.)...Chorar agora não vai mudar nada!(Travando os dentes de raiva.)

Manoela caminhava cambaleando em direção a Lorran, seus ombros estavam ralados, sua blusa rosa estava suja de terra e sangue, havia muita tristeza emanando de seus olhos verdes. .

_Se você se permitisse perder o controle e chorar, eu iria acreditar que você se arrepende do que fez e isso iria me acalmar um pouco..(Passando sua mão direita nos cabelos de Lorran, arrepiando-os para trás.)..Se permita chorar cara! (Lorran afasta a mão de Manoela com violência a derrubando no chão.)

_Saía de perto de mim sua vagabunda! Não vou demonstrar nada que eu não tenho de verdade. Essas lagrimas que você viu escorrendo de meus olhos não significam absolutamente nada!

Danilo golpeia Lorran com um pedaço de pau.

_Quem você pensa que é seu lunático? Não se contenta com a merda que você fez com o teu irmão? Agora deu pra bater em menina também ? Sua bicha!!

Lorran se contorce no chão, acariciando sua nuca em uma tentativa de aliviar a dor, em seu íntimo ele sabe que merece aquilo, caído no chão ele pode contemplar a alguns metros à frente o corpo de Eduardo, ele sabe que o que ele fez é muito errado.

Bruna joga uma pedra em direção ao rosto de Danilo, ele consegue desviar a cara a tempo, a pedra bate em uma grande arvore e depois caí no mato.

_Você tá maluca guria? (Indo em direção a Bruna totalmente transtornado, com o pedaço de pau na mão.)

_Não!! Sai pra lá! Não me mata também, eu só não quero ver outro amigo meu se tornando um assassino! ( Se afastando lentamente de Danilo, aflita com o rosto totalmente avermelhado. Se agachando e tentando pegar outra pedra para jogar nele.)

Manoela surge por trás de Bruna e a derruba no chão, chutando a pedra que ela ia jogar em Danilo para bem longe.

_Chega disso! Acabou amiga...(Irritada, olhando para Bruna com um olhar sério e inflexivo, fechando os punhos.)...Toma jeito mulher, já passamos por tanta coisa ruim hoje, parece que você quer piorar tudo.

Bruna tenta dar uma rasteira em Manoela, não consegue. Começa a chorar e a gritar.

_Eu só quero que tudo isso vá embora! Esse dia! Vocês! O maldito do Eduardo!! Por que ele tinha que fazer isso comigo? Por que esse filho da puta aceitou fazer trilha com a gente?! Ele devia saber que Lorran detestava ele...(Se acalmando lentamente. Olhando para Danilo como quem perde perdão.)..Está tudo tão errado! Tudo isso! Essa merda parece um pesadelo que nunca vai acabar!

Danilo larga o pedaço de pau, e ajuda Bruna a se levantar.

Lorran ainda caído no chão, observa Danilo e Manoela abraçando Bruna, e começa a se encher de compaixão pela amiga que sempre foi conhecida como a mais sentimental do grupo, “como uma garota tão doce pôde em apenas um final de semana se converter em uma garota agressiva e irracional assim? Eu desencadeei emoções com as quais nem um de nós estávamos preparados para lidar. Me sinto culpado por mais de um assassinato, eu matei a alma de minha amiga também” pensava Lorran consigo mesmo.

Lorran nós precisamos fazer alguma coisa! Seu irmão não pode ficar jogado aqui.

Eu sei Danilo..(Se levantando do chão, seu rosto está avermelhado e algumas lagrimas insistem a sair de seus olhos.)..acho que temos que levar o corpo para a cidade..depois eu me entrego para a polícia eu digo o que eu fiz..

Mas todos nós te ajudamos, a gente também teria que se entregar...

Eu não quero ser presa! Grita Manoela e Bruna balança a cabeça como que concordando com a amiga. Não Danilo! O único culpado aqui sou eu. Você e as meninas não sabiam que eu iria chegar ao extremo..(Olhando para todos com uma expressão triste.)..na verdade, nem eu sabia. Lorran olha para o corpo inerte de seu irmão e se arrepende profundamente de ter o matado.

Eu tinha que proteger ele, tinha que ser um exemplo para ele, porra!! O cara era meu irmãozinho..(olhando para a correnteza do rio.)..eu deveria ter amado ele. Mas não consegui..(abaixando a cabeça e sendo abraçando por Bruna e Manoela.)

O céu começa a ficar avermelhado, o fim da tarde está chegando. Alguns pássaros voam por entre as nuvens, um bando de macacos corre por entre a copa das árvores. Os amigos ficam olhando para aquela travessia de macacos por alguns minutos.

Ninguém fala nada, Manoela segura a mão de Lorran. Danilo abraça Bruna por trás e beija o pescoço dela.

Os macacos correm alegres pelas copas das árvores enquanto Manoela e Lorran se beijam. Danilo fala algo no ouvido de Bruna, que dar uma risadinha e se vira em direção ao amigo, beijando a sua boca. A correnteza do rio continua indiferente, um enorme tronco de babaçu tenta impedir seu caminho inutilmente, nada consegue se adaptar tão bem como a água. Um casal de borboletas paira sobre o corpo de Eduardo.

FIM.

Luan Ribeiro
Enviado por Luan Ribeiro em 08/05/2018
Reeditado em 08/05/2018
Código do texto: T6331149
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