O Visitante traiçoeiro
Depois do almoço, Dora brincava no seu quarto, quando um inseto, sem avisar, pousou em seu braço. Ela, institinvamente, pensou em eliminá-lo e preparou-se para esmagá-lo com um tapa. Hesitou-se, encantada pela beleza daquele bichinho, que trazia minúsculas rajas brancas no corpo. Achou conveniente não matá-lo. E assim, passou de feroz algoz a uma protetora benevolente, que além de não querer eliminá-lo, não quis expulsá-lo do seu braço. Imobilizou-o, deixando que ele ficasse ali sossegado.
E o inseto que parecia um minúsculo helicóptero continuou tranquilo, enquanto ela se sentia lisonjeada por ter sido escolhida por ele. Ficou por alguns minutos contemplando aquele animalzinho tão bonitinho e frágil. O bichinho que parecia pouco ligar para ela, continuou quieto como dormisse. Estava ali por acaso e logo iria embora, pensou. Ela sempre ouviu falar que os insetos tinham existência curta, não mais que algumas horas. Por isso, não negaria aquela pequena criatura um resto a mais de vida. E ele que não a incomodava, não fazia barulho podia ficar ali em paz. Fosse embora quando achasse conveniente. Para não assustá-lo, deitou e assim acabou adormecendo.
Ao acordar, o inseto já havia desaparecido. Ficou decepcionada com o sumiço daquele visitante casual que foi embora sem se despedir. Imediata-mente sentiu que ele lhe deixara um pequeno ponto vermelho no braço e uma coceirinha desagradável como lembrança. Como nem tudo são flores, três dias se passaram quando ela amanheceu com febre que foi aumentando, aumentando e uma dor de cabeça enjoada, dor atrás dos olhos, tonturas, moleza, dor no corpo e muitas dores nos ossos e nas articulações.
Seus pais, imediatamente, procuraram um médico, e ela, ali naquela sala triste e fria do consultório, ficou sabendo que estava com dengue. É difícil explicar a sensação de pavor que tomou conta dela ao saber que estava com a doença, e revoltada ficou, quando lhe contaram que a doença foi transmitida por um mosquito, Como podia alguém morrer por que tinha si-do picado por um mosquito, um bichinho lindo que parecia tão inofensivo? Então se lembrou de que não havia dia em que as televisões não dessem no-tícias de casos de morte por dengue na cidade. O mosquito da dengue era mais falado nos jornais e televisão que o próprio governador do estado. E ela nem pensou que aquele bichinho que pousara no seu braço, era o mosquito da dengue.
Alguns meses depois, já curada, a imagem que não saía da sua mente, toda vez que entrava no quarto, era a do mosquito rajado que pousou em seu braço e lhe transmitiu a dengue. Sabe, ela levou um certo tempo para perdoá-lo. E numa tarde, depois do almoço, enquanto fazia as tarefas da escola, um mosquito pousou, sem avisar, em seu braço. Ela nem quis saber, o matou com um violento tapa.