COMO CONSEGUIR O QUE DESEJA

Despretensiosamente, Paulo começou a escrever. Fez um blog e todos os dias deixava por lá uma história, uma poesia. Mal sabia do desafeto que por ele alguém nutria. Rita era seu nome. Ela nunca gostou de Paulo, achava- o um tanto quanto seguro demais, louco demais. Isso começou na época em que juntos trabalharam numa repartição. E quando Paulo pediu para sair foi a gota d' água. Ela bradava: "Como pode alguém desprezar o serviço público assim?" Dizia isso, talvez, por ser terceirizada. O fato é que Rita agora perseguia Paulo. Sob um perfil falso, lia todos os dias os textos que ele escrevia, procurando aqui e ali uma falha, um defeito qualquer. E, vez ou outra, encontrava uma crase, uma vírgula fora de lugar. E quando isso acontecia, aí ela se ria com gozo e prazer, não sem antes anotar a infâmia na caderneta comprada para esse fim. Sem nada saber dos planos de Rita, Paulo continuava a escrever o que pensava, o que sentia. Toda manhã, Rita preparava seu café e, junto à janela do conjugado alugado em que morava, reescrevia os malditos textos dele até chegarem ao que ela chamava perfeição. Com o tempo, Paulo foi ficando mais criativo, menos obtuso e, curiosamente, quase não errava. Furiosa, Rita pensava com seus botões: " Aposto como descolou um revisor." Anos e anos depois cada um chegou ao lugar pelo qual batalhou. Paulo morava na Suiça e era lido em toda parte do mundo. Rita passou em primeiro lugar no concurso público para professora da Educação Infantil da prefeitura de Priprioca do Sul, no sertão piauiense. Dizem que ela tem todos os livros dele e os utiliza para ensinar pelo sertão o que é uma literatura ruim. Fim

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 30/04/2018
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