1039-O MISTÉRIO DA RAIZ CÚBICA

O MISTÉRIO DA RAIZ CÚBICA

Confessa o meu amigo Tunico Sargento que não estudou teorema de Pitágoras nem as potencialidades da raiz cúbica, raiz quadrada e outros parangolés da matemática, e que nunca aprendeu nada ligado a esses ininteligíveis e inúteis conceitos matemáticos, o que não lhe fez falta nenhuma no decorrer de sua existência.

Concordo com ele. Queimei as pestanas no para tentar compreender essas coisas da matemática. Só aprendi o que me valeu na prática da vida: as quatro operações básicas, a tabuada, que sei de cor e salteada, que me dispensa o uso de calculadoras para saber quanto é 333 mais 666 ou doze vezes doze. E fazer troco de dinheiro, o quêe nenhuma escola ensina.

Só vim a entender mesmo o que é raiz cúbica quando mandei abater uma ingazeira plantada no meu quintal e ...

Um dos ouvintes perguntou:

—Não te interrompendo, mas já o fazendo: você obteve as necessárias autorizações do IBAMA, da prefeitura e dos “amigos do Verde” para abater uma árvore plantada e cuidada por você no seu quintal?

— ... IH, cara! Me esqueci completamente. Mas vamos ao fato. Numa grande reforma em minha casa, mandei fazer um canteiro elevado, de resistentes tijolos queimados (não esses fracos tijolos perfurados e que se esfarelam ao serem assentados). Uma caixa cúbica de dois por dois metros e um metro de profundidade. Queria plantar uma árvore e não queira que ela arrebentasse o piso com a extensão de suas raízes.

— Uma árvore “prisioneira”? Sem liberdade de crescer?

— Pode ser. Sim, foi exatamente o que aconteceu. Mandei forrar a caixa com asfalto, vedando qualquer possibilidade de as raízes saírem do cubículo. Ali na caixa cheia de bom material orgânico, adubo, etc. plantei uma ingazeira. Elegante árvore que aparece em diversos locais da nossa cidade, ela desenvolveu com força e sua copa formou-se sobre um forte e único tronco de uns cinco metros.

A árvore ficou bonita. A copa densa serviu para abrigar ninhos de diversos pássaros em diversas estações. Emanava uma energia boa e sua sombra era um refresco sobre o pátio do quintal, todo cimentado.

Mas, enfim, doze anos passados, tornou-se uma gigante, e a força de suas raízes, enclausuradas, num espaço reduzido, rachou uma das fortes paredes laterais.

Chamei um pedreiro. Ele examinou o canteiro pelos quatro lado e disse:

— Vamos ver o que está acontecendo. Se ela lançou raízes que ultrapassaram o isolamento do asfalto por baixo, vai acabar arrebentando também o piso do quintal.

— Ok, vamos lá. — eu disse, autorizando o desmanche da caixa.

A surpresa foi grande.

Quando as paredes do canteiro elevado foram retiradas, a árvore tombou por um lado, escorando-se sobre o telhado do cômodo da lavanderia. As raízes da ingazeira, encontrando limites por todos os lados e pelo fundo, foram circundando as paredes do cubo, enchendo completamente o local com sua raizama. Mas não ultrapassaram a base.

Pouca terra havia dentro do cubo, pois as raízes tomaram a forma do cubo, que, por ser pequeno para o desenvolvimento pleno, formaram um CUBO DE RAIZES.

Entendi então o que era uma RAIZ CÚBICA.

Conto # 1039 da Série INFINITAS HISTÓRIAS

Belo Horizonte, 30 de janeiro de 2018

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 11/04/2018
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