Espalhadeira de paineira

Mesmo com o aperto no acerto da cozinha e de tanta outra coisinha e etcétara e tal, mamãe não descuida jamais do quintal. Algo que trouxe de sua infância solitária mas de magia, que na honrosa e desafiadora exceção do tamarindeiro, árvore não havia em que não subia...

Já de menor agilidade e mais terráqueo, papai teve também sua participação ativa na formação de nossos quintais, que foram dois, nada mais. O inicial, do Brumado, onde chegaram a formar um pomar bem variado que a nossa infância rendeu tanto encanto, e que quando para trás deixado, valeu, digo eu, algum furtivo pranto...

Já o nosso segundo quintal está por fazer sessenta anos, com adições, mudanças e reedições, hoje notabiliza-se mais pela conspicuidade das bananeiras, que sombra de sobra fazem às galinhas zanzadeiras...E de pensar que em boa parte desse espaço, homenagem lhe faço, o menino Bartolomeu (Campos de Queirós), antes de nós, estripulias não fez... Em seu livro Por Parte de Pai, baseado no período em que, tendo prematuramente perdido a mãe na vizinha povoação do Pequi, foi trazido pelo pai para Pitangui, para a companhia avoenga...E chega de lenga-lenga...?

Voltemos a mamãe: de sua experiência arborícola, Zezé desenvolveu particular afeição pelas paineiras, mesmo tendo que sacrificar a contra-gosto uma majestosa espécie que tendo virado rainha de nosso quintal, ameaçava cair ao primeiro vendaval. E para compensar a perda, Zezé começou a distribuir mudinhas da citada e venerada planta, que hoje povoam quintais e parques que se estendem até a nossa capital federal...

{Sobre as paineiras, e outras tantas espécies de nossas árvores, se me cabe palpitar eu sugiro uma visita ao site Instituto Árvores Vivas, de inspiração de uma Juliana Gatti, que se inspirou justamente numa paineira para criar sua instituição.}

Uma delas, já de porte arbustivo, vai se espichando e copa formando junto à estaçãozinha de trem do Brumado, de há muito convertida em centro cultural e de aprendizado do povoado. Silvânia, a atenta cuidadora do espaço, na mesma certeza que tem de que o trem já mais não vem, compraz-se em sinalizar os progressos de seu seu jardim. Com pouco, quem sabe, não estará nos convidando a fazer piquenique à sombra sua nova árvore, enquanto lemos o Sesinho, que conheço e pelo qual tenho tanto apreço desde menininho?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 01/04/2018
Reeditado em 01/04/2018
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