Uma lágrima e um gole

Era dia nove de março, faltava-se um dia e eu sentia falta dele como se faltava-se tempero de vida na vida.

Fui até um bar no qual costumávamos ir, espero que não o encontre lá.

Estou em pedaços e vou ao bar para provar isso para eu mesma, já que é melhor chorar bebendo cerveja do que chorar bebendo gotas de suicídio.

Já se aproxima a copa, e meu pais está do avesso (se é que é possível avessar mais)

O titulado melhor jogador do time está tendo complicações e o Brasil para.

Vai abrir o comércio nesse dia?

A guerra na síria assusta, as crianças tampam até os olhos de sua boneca,

Mas afinal, não sou de lá, o que tenho a ver com isso?

O pensamento do brasileiro é deprimente.

Chego no bar e me deparo com cigarro, e logo trago

O problema é que, na medida que eu vou tragando, eu mais trago ele para o pensamento.

Faço levantamento de copo e só não levanto a dignidade.

Abaixo a cabeça, e choro.

E eu duvido que os milhares de brasileiros desempregados atualmente, não sabem a dor da saudade perto da dor do desemprego.

As duas se comparam,

Mas a do desemprego chega a ser maior.

Falo isso por que sou universitária e estou desempregada, coincidência.

Paro para pensar no meu futuro, mas só lembro do passado.

Nadine Gordimer falou que para lidar com o futuro é preciso lembrar do passado, então eu logo encontro um motivo para não abraçar a morte.

Levanto o olhar, e lá está ele...

Estou no fim do bar e ele está lá no início.

Eu com cerveja de um lado, cigarro no outro lado, lagrimas nos olhos e pensamento voando.

Ele com cerveja de um lado, cigarro no outro lado, celular nos olhos e pensamento voando.

Quem diria que os corpos que se sentavam juntos na mesa do bar, agora estariam separados por algumas mesas no mesmo bar?

Eu quero ir lá, mas ele não ia querer-me lá. Então eu fico por aqui, na minha.

Coração pulsa forte igual a bateria das escolas de samba que foram exaltadas no carnaval enquanto crianças morriam de pobreza na favela, na viela.

Por uma vez no ano eu sei onde você está, além de aqui dentro de mim.

Pego meu celular e ouço um pouco de rap,

Olho para você e você também pega o fone e põe.

Talvez tenhamos dado certo por sermos tão iguais.

E a vida passa em um trago e um levantamento de copo,

Você paga o dono do bar e vai embora,

Eu pago o dono do bar e vou embora.

Voltamos para as nossas vidas sem cor, enquanto não superamos o orgulho.

A dor da saudade só não é maior do que a dor do desemprego.

Até