O Vício

Nicanor tinha uma esposa muito atenciosa, ela não fazia questão de muita coisa. No mercado escolhia só os itens para o dia a dia. Manicure, cabeleireiro só em dia de festa. Nicanor achava bom porque a mulher não dava prejuízo, exceto numa coisa, na tal da Coca-Cola. Ah era só entrarem num bar ou restaurante, o marido perguntava o que ela iria beber, mas ela nunca falava. Acho que tinha vergonha em dizer.

Então Nicanor, que não dispensava o tal xarope, pedia uma latinha ou uma garrafinha. Para ela era sempre água ou nada.

Mas quando a balconista servia, o líquido espumava no copo, e os olhos dela grudavam de tal modo que Nicanor pedia sempre dois copos.

- Um golinho só, que não sou de refrigerante!

No copo ele vertia o gasoso pela metade, mas depois que as borbulhas acabavam, mal ficava uns três quartos.

- Só mais um pouquinho!

O marido completava e isso acontecia mais de uma vez.

- Tem certeza que não peço uma só para você?

A moça delicadamente agradecia:

- Refrigerante engorda e não me faz muito bem!

Ele não reclamava, afinal ela nunca exigia nada, mas o fato é que saía sempre do estabelecimento com aquela sensação que faltou alguma coisa, um pouco mais do viciante refresco.

Às vezes a deixava em casa e ia até a padaria. Pedia uma Coca para degustar sozinho...

Cláudia Machado

6/3/18

Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 08/03/2018
Reeditado em 10/03/2018
Código do texto: T6273740
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