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FOLHETIM
(Pelo Dia internacional da mulher)
https://www.youtube.com/watch?v=sXmx-vLCvj4
Naqueles dias de março, duas amigas faziam aniversário.
Era um tempo belo no final dos anos quarenta, as moças cheias de ilusões e devaneios...
Seus namorados foram em busca de um presente para elas,
eles também eram amigos.
Chegaram em suas casas e entregaram os mimos para as belas moças:
Dois conjuntos iguais de jarra e copos para água.
Ana, que era mais tímida e humilde aceitou o presente, não era bem isso que ela esperava, queria um perfume, um corte de tecido, ou quem sabe um buquê de flores...
Roberta que era mais positiva, não teve dúvidas, quando abriu o pacote, fingiu ter se desiquilibrado e deixou cair tudo no chão.
Entre os cacos de vidro, na mesma noite terminou o namoro e depois confidenciou com Ana que ao escolher o presente o rapaz não havia pensado nela, mas sim em adquirir algo para a vida futura deles e que certamente a vida dela seria assim, sempre em segundo plano.
O tempo passou, Roberta com outro se casou e Ana se casou
com o rapaz do jogo de água.
A vida dela foi um calvário, ele se revelou um usurário, nunca
a presenteou ao longo da vida. Explorou-a de todas as formas,
ela foi um empregada na vida dele, ele a submetia de todas as
formas, inclusive na vida íntima, ela nunca teve voz ativa naquele casamento.
Ela tinha uma confidente, e as coisas que contava eram muito
chocantes, absurdas mesmo.
Mas o tempo passou, eles criaram os filhos e estes se casaram,
Ana doou o jogo de água para o filho mais velho, e a nora ao
receber a herança, tratou de lavá-la muitas vezes com sal grosso para retirar a energia contida ali naquelas peças. Toda a família sabia das histórias.
Aquele homem que queria tirar vantagem em tudo teve um
final de vida muito triste, ao perder uma das pernas num acidente de trânsito numa das ruas da cidade. Passou então seus nove últimos anos inválido, numa cama lendo livros e rezando o terço com Ana.
A vantagem que ele quiz levar no presente de Ana se tornou um "Vintage", uma peça de decoração na casa do filho.
Dias depois da morte dele, durante um almoço na casa da nora, entre saladas, frango e macarrão, com os copos e a jarra herdados na mesa, Ana contou novamente para todos a história do jogo de água, pois a nora não sabia bem como havia sido, inclusive a história de Roberta...
Triste a sina de Ana, antes ela tivesse tido a força da amiga em
terminar tudo antes de começar...
Este é minha homenagem à todas as mulheres submetidas a
seus maridos neste dia internacional da mulher.
(Oito de março)
