Menina Estrela, Hanabi-men e Outros Apelos Insensatos.

Clair de rue

Eu lembro de você naquele dia chuvoso, você cantarolava algo que me lembrava Debussy, enquanto a copa da velha figueira filtrava as gotas que caiam na calçada, o estatelar delas era tua marcação de compasso, tenho esse momento muito bem guardado em minha memória e ele é tão meu que não ousaria sequer te lembrar dele se acaso um dia você vier a esquecer. O vestido de babado rosa e as galochas azuis do teu irmão, grandes de mais para teus pés de bailarina, mas ainda assim muito bonitas, mas talvez isso seja por sua causa, tudo fica bonito em conjunto a ti, mesmo a natureza pacata do interior de catanduva ganha um brilho quando você a encontra. A rua que mesmo em dias de sol não era muito movimentada agora era vazia, perfeita para você que gostava de atravessá-la correndo, você saltava nas poças e juro que toda vez que tu sorria o tempo em si perdia uma batida do coração, e eu ficava lá na varanda com a pipa na mão, torcendo pra que a chuva se alastrasse por todo o verão, desejando a chuva eterna nem que fosse só no nosso quarteirão, memorizando tua alegria e fazendo dela minha própria salvação, eu lembro de você daquele tempo onde não havia preocupação, eu era apenas um menino que te olhava ser maravilhosa como sempre foi, como ainda é e torcia pra ver isso sempre.

O Tempo passou, a figueira foi cortada e a rua repavimentada, a sua velha casa foi vendida e a minha velha casa só tem um monte de mato na fachada, já não moramos mais em catanduva e nenhuma rua dessa cidade cinza parece vazia ou pacata, mas você tem consigo esse fragmento de tempo que lhe adorna onde quer que vá, não importa quantos anos se passem eu só consigo enxerga o mesmo vestido, as mesmas galochas e sempre que a chuva cai eu cantarolo Debussy.