Menina Estrela, Hanabi-men e outros apelos insensatos.

O Homem Cinza.

Estava frio apesar do sol, o céu em um azul celeste borrifado com nuvens, para maioria das pessoas a impressão era de um dia sereno de verão, mas estava frio.

Ele andava com as mãos nos bolsos do jeans e o cigarro pendurado nos lábios, as passadas largas iam cobrindo a calçada, as manhãs sempre são desertas, principalmente quando se anda sem sequer notar o que existe ao seu redor, em outros tempos ele talvez parasse na praça e olhasse para as copas das árvores, talvez até pudesse reparar em uma ou outra pessoa que vagava por ali, mas nos dias de hoje seu olhar opaco e penumbre se limitava apenas aos próximos passos, olhava para baixo apreciando o preto encardido de seu sapato furado, e tragando a fumaça de um derby.

Fazia algum tempo que o mundo havia ficado desinteressante, mas aquela era a primeira vez em anos em que ele pensava que a vida era tão cinza quanto o mundo a sua volta, não existem muitas palavras amigas que podem consolar uma alma desesperada, geralmente nesse ponto a única opinião válida é a própria, e naquele momento sua opinião sobre sua vida e sobre si mesma eram péssimas, mas seu cérebro saturado e sua alma cansada já não pareciam ter forças pra discutir entre si, o ato de andar se tornou automático, contínuo, pragmático e seguro, como se enquanto ainda pudesse andar ele poderia seguir com sua vida, mesmo que essa já não fosse tão interessante, ou sequer atraente.

Foi nessa manhã de sol, sem vento e fria que ele pela primeira vez desistiu não por não ter mais forças, não por estar cansado, ele simplesmente desistiu, pois não tinha mais interesse, aqueles que se entristecem com suas vidas ainda a consideram, ainda lutam por ela pois um coração triste é um pedido de mudança, quando sentimos dor e imploramos pela morte isso nada mais é do que um desejo intenso de viver, mas quando nos tornamos apáticos a insensíveis, quando nossas lágrimas forem tão falsas quanto nossos sorrisos, bem então realmente não existe muita vontade em permanecer vivo.

Ele Tragou seu cigarro, inspirou e soltou a fumaça pelo nariz, as pessoas eram tão cinzas quanto a fumaça que expirava, nem a poesia melancolia de seu dia a dia o atraia ou o conquistava, seu coração era doente, sua mente perturbada, sua alma esquecida e condenada, aqueles que o conheceram diziam a ele que ele estava diferente, e ele apenas retrucava dizendo:

- Eu estou indiferente.