Menina Estrela, Hanabi-men e outros apelos insensatos.

Apelos Insensatos.

Ele se sentou ao lado daquele outro cara, ambos se deram ao trabalho de se cumprimentar e trocar algumas palavras, mas não muito mais que isso a princípio, era como se houvesse uma grande barreira que impedisse a manifestação dessa empatia natural a qual todos temos, e por isso a silencio era constante, dominante e impiedoso.

Porém em brisas eventuais de inspiração, vez ou outra alguns de nós superam as barreiras das convenções sociais, quando isso acontece as atitudes que seguem a esse evento são em suma uma espécie de afirmação daquilo que é ideal, então toma-se a forma de um sorriso, de um aceno com a cabeça ou até mesmo de uma pergunta sincera:

- Você gosta de Zumbis?- Não era como se não houvesse outros assuntos, mas naquele momento essa era a única questão em sua mente, por isso ele a perguntou, apesar do medo de ser julgado apenas como um estranho-.

- Acho uma idéia mórbida... - Ele respondeu, e ao notar o trocadilho sorriu com o canto da boca, sem se permitir grandes reações, continuou o raciocínio- Digo, não é só questão de um cadáver sair atacando e infectando todo mundo, é mais no sentido de que apesar dele não ser mais humano, as pessoas que ainda vivem e que o conheceram como humano vão se lembrar dele, vão saber de suas tristezas, de suas vitórias, e naquele momento não poderiam fazer nada para ajudá-lo, alguns julgariam que o melhor seria poupá-lo da pós vida... O mais aterrorizante dos Zumbis é que a qualquer momento por desventura, qualquer um pode se tornar um deles seja sua mãe, seus filhos, seus avós, o amor de sua vida, por mero destino, qualquer um pode vir a ser um monstro...

- Você sempre é tão profundo assim? - O tom não era de desdém, era uma real curiosidade, ele observava aquele cara desleixado com o olhar meio vazio e se perguntava a razão dele estar refletindo tanto a respeito de uma pergunta idiota como essa, a primeira vista ele parecia apenas um barbudo qualquer que não perderia seu tempo falando sobre nada com estranhos, mas no fim ele parecia realmente interessado em falar. - É um pouco assustador, na realidade eu mesmo não esperava levar muito adiante, nem sei de onde isso veio, apenas perguntei...

- E eu apenas respondi não me leve tão a sério, às vezes eu pareço falar coisas complexas, mas em sua grande parte são só pensamentos sem sentido, não é como se eu me dedicasse realmente a pensar em zumbis, é mais a questão do que eu penso sobre os humanos...

- E o que seria?

- Alguns de nós já morremos, somos apenas monstros vagando em cascas e se agarrando ao pouco de humanidade que nos resta, mas no fim a desilusão e a solidão são tão grandes que não existe real esperança de se salvar, mas nós permanecemos ligados a essa memória, a esse sentimento... - Então ele parou e sorriu, era nítido o fato de que ele já não sabia como continuar a conversa, e mesmo que soubesse talvez não quisesse. -.

- Bem, acho que já tive minha dose de melancolia por hoje. - O tom era descontraído, mas havia um sentimento real por de trás dessa afirmação despretensiosa. - Podemos conversar outra hora?

- Claro, valeu o papo... A gente se vê.

- Sim, a gente se vê.

E esse pequeno lapso de realidade onde dois estranhos param por um breve momento apenas para falar às coisas que estão em suas mentes, esse breve espaço de interação social despreocupada, é um acidente que pode ocorrer vez ou outra nas intermitências da vida, eles podem jamais se falar de novo, mas ambos vão se lembrar daquilo que foi dito ali, pois não era