SEM COMPROMISSO

Conto de Gustavo do Carmo

Enfim perdeu a virgindade. Até então tinha pavor de morrer sem ter se deitado com alguma mulher. E já estava com 35 anos. Perdeu as ilusões com um casamento, filhos e até um simples romance.

Foi exatamente por este motivo que, depois do sexo (ardente e gostoso como um chocolate), Afonso propôs à bela primeira mulher com quem transou que não houvesse nenhum compromisso entre os dois.

Francine era branca, tinha cabelos negros e cacheados e seios fartos. Os dois eram colegas de pós-graduação em Telejornalismo, mas se afastaram e se reencontraram.

Afonso não queria se prender a um relacionamento. Queria apenas transar com várias mulheres para no futuro poder ficar contando quantas levou para cama e quantas viu nua. Mas a sua moral e o seu bom caráter o deixavam inseguro de cometer esta galinhagem. Só que decidiu confessar a sua intenção.

Não disse logo de cara. Precisava tomar muito cuidado com as palavras para não ofendê-la e não chamá-la de prostituta. Ficou um longo tempo pensativo, em silêncio, o que intrigou Francine, que perguntou:

— O que houve, Fon? Não gostou da noite?

— Adorei, Fran. Gozei muito. Mas estou preocupado com uma coisa que eu preciso te contar.

— O que foi?

— Você quer mesmo namorar comigo?

— É claro que eu quero, Fon! Por quê? Você não quer? Garantia, lhe abraçando por trás, beijando o seu ombro e as costas.

Afonso ficou mais um tempo em silêncio antes de responder, não sem antes dar um longo suspiro.

— Não, Fran. Realmente eu não quero.

— Como assim???? Francine começou a se descontrolar e elevar a voz. Se afastou dele e correu para a sua frente, encarando-o. — Você acha que eu sou uma prostituta? Que me leva pra cama, me usa uma vez e depois me joga fora????

— Claro que não, Francine! Foi por isso que eu estava pensativo. — Não queria te ofender. Mas eu não quero assumir uma relação. Não quero ficar preso a uma única mulher. Quero transar com várias!

— Afonso? Você tem noção do que está dizendo? Questionou, já com a voz embargada.

— Desculpa. Não foi por maldade. Eu também tenho vergonha de ser apresentado à sua família. Estou desempregado. Serei prato feito para ironias da sua mãe. Vou passar vexame na frente dos seus amigos. Eu tenho as minhas manias.

— Então mude!

— Mas o motivo é esse! Eu não quero mudar

— Você não quer mudar porque não me ama?

— Não. Eu tenho dificuldades de mudar. Já sou uma pessoa honesta, pacata e respeitadora. Não bebo e não fumo. Não gosto de confusão. Não tenho porque mudar. E você? Você também não me ama? Não vai me aceitar do jeito que eu sou?

Foi a vez de Francine ficar em silêncio. Ela pegou suas roupas e foi se vestir no banheiro da suíte do seu próprio quarto. Voltou já vestida com uma camiseta e um shortinho. Aproximou-se dele e lhe desferiu um tapa em seu rosto.

— Cachorro! Se fez de virgem para me levar para cama e ainda não serei a única. E ainda se acha honesto.

— Mas eu era virgem antes de me deitar com você. E você só aceitou a transar comigo por pena. Disse Afonso, enquanto se vestia e pegava as suas coisas. — Agora você entende porque eu não quero assumir compromisso nenhum. Também não tenho mais paciência para ficar discutindo relação. Se na primeira vez já estamos brigando imagina quando formos casados. Quem não gosta de mim é você. Não quer me aceitar do jeito que eu sou? Paciência.

Encerrou Afonso, antes de sair rapidamente do quarto e deixar o apartamento da primeira mulher que levou para cama. Bateu a porta. Depois da discussão os dois nunca mais se falaram.

Afonso continuou morando com os pais no subúrbio e nunca mais transou com ninguém. Já Francine se casou com um empresário rico e paulista e se mudou para São Paulo. Isso depois de criticar a imaturidade, a performance sexual e a falta de higiene de Afonso para as amigas. Tudo através de mensagens públicas nas redes sociais.

Gustavo do Carmo
Enviado por Gustavo do Carmo em 21/02/2018
Código do texto: T6260454
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