Menina Estrela, Hanabi-men e Outros Apelos Insensatos.

Enxaqueca

A dor ressonava como um agudo continuo e irritante, algo entre um bule com água fervente e um trompete desafinado tentando imitar Coltrane, a porta e a janela do quarto pareciam lacradas forradas com toalhas para que absolutamente nenhuma luz entrasse, aqueles que sofrem com o mal da enxaqueca aprendem a não temer o escuro, aliás aprendem a amar a sobriedade e o conforto pacifico de um quarto malcheiroso penumbro e isolado,

Mais do que isso, as vezes na intensidade da dor e no desespero de não pensar, pois qualquer atividade cerebral soa como uma motosserra partindo o crânio e revirando a massa cinzenta, o pragmatismo torna-se rotineiro, você não pensa em problemas, ou soluções ou sequer em prazeres e desgostos, você se foca apenas no essencial, respirar, relaxar e sentir as vibrações que o deslocamento de ar causa ao teu redor, se focar na sensação do colchão em sua pele, sentir a variação térmica de sua epiderme de acordo com o clima local, é uma ode ao egocentrismo pois naquele momento de dor intensa e incurável você é o centro então todo o sentimento daquele instante é dado pela sua perspectiva de si mesmo. 

Talvez isso seja um pouco de mais, um exagero, não sei. Mas as vezes é bom você ser o centro do mundo, nem que seja por umas horas, nem que seja apenas para aliviar a dor.

TScornaienchi
Enviado por TScornaienchi em 21/02/2018
Código do texto: T6260325
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