Os Monges
Beatriz termina seu lindo trabalho artístico. O quadro dos Três Monges parece que já faz parte da casa.
Enquanto descansa no quarto, o CD toca Cantos Gregorianos. O espaço é amplo, e um vaso de camélias brancas enfeita o ambiente; no chão almofadas de crochê coloridas. Em cima do penteador, maquiagens e uma caixa de música decoram o ambiente com requinte.
Beatriz senta-se na poltrona do quarto, fecha os olhos e sente uma paz enorme, com o seu primeiro trabalho artístico concluído. Pintando o quadro dos monges, conseguiu esquecer um pouco as adversidades. Os momentos de criação foram como bálsamos e refúgio diante de tantos desenganos impostos pela vida: as dívidas herdadas do marido, os desafetos com o filho e a nora, e anos de dependência em medicamentos para dormir.
Adormece sem seu ansiolítico, fecha os olhos e acontece o inusitado: os monges ganham vida, abençoam, incensam e oram pela casa. Nesse momento sublime, não sabe se é sonho ou uma manifestação espiritual. O que interessa é o sentimento de alívio e paz que desde há muito tempo não sentia.
Ao acordar sente-se reabastecida, parece que a casa ganhou uma luminosidade especial. Toca o telefone, e a voz de uma jovem senhora fala do outro lado da linha:
- Dona Beatriz, só para lembrar que a exposição é amanhã. Precisa trazer seu quadro!
No dia da exposição, no meio de tantos trabalhos coloridos e maravilhosos, lá está os seus Monges. Ele exerce um fascínio sobre as pessoas. O prefeito contempla por alguns minutos o quadro e pergunta.
- Está a venda este quadro? Gostaria de comprá-lo!
- Este quadro não tem preço, pois valores vivenciados pela alma não podemos mensurar.
A partir deste dia, Beatriz guarda os calmantes e os lenços de chorar. Agarra-se aos pinceis, e uma nova jornada começa na sua vida, aos 73 anos. Os monges abençoaram a artista que precisava se expandir e enobrecer a vida.