UM SALTO DE CORRUPÇÃO ATÉ O SÉCULO XVII NA BAHIA

No nosso país a corrupção vem de longas datas, já nos idos do século XVII, quando o pau-brasil era ouro, os franceses, ingleses sabiam explorar o nosso território transformando-os em inveterados contrabandistas do nosso Ibirapitanga.

Vamos acompanhar os relatos do historiador Alberto Silva, no seu livro: “A Cidade do Salvador” (aspectos seculares) publicado em 1957/Ba. Quando ele diz: “Os franceses em maior escala sobretudo no primeiro século da nossa História. Os ingleses porém mais teimoso nas suas aventuras, pois até os princípios da passada centúria andavam ainda pelas nossas Costas Sul, ora em Porto Seguro, ora em Caravelas.”

“Entretanto, porém, em nosso assunto, Sr. Tomás Lindley, um destes ousados contrabandistas ingleses, teimava realizar ainda em 1802, em nossas praias desertas, o perigoso escambo do pau-brasil. Caixa do Bergantim “Paquet Rachel”, contrabandeava Lindley em Porto Seguro, quando foi detido pelo Ouvidor Geral do Crime, Cláudio José Pereira da Costa. Em carta enviada a Londres aos seus conterrâneos Syomore e Groskan, responsabiliza, Lindley pela sua prisão, o comandante do Bergantim e o capitão-mor de Porto Seguro, que tentava se apoderar da mercadoria contrabandeada. O contrabandista britânico teve, porém, um gesto nobre de ocultar o nome do seu sócio na arriscada aventura; o ouvidor de Porto Seguro, José Duarte Colho, preso, por determinação das Cartas Régis de 31 de janeiro e de 23 de fevereiro de 1803, remetidas ao então Governador Francisco da Cunha Meneses.

Tomás Lindley chega preso a está cidade no dia 26 de setembro de 1802, sendo recolhido dois dias depois com sua esposa aos calabouços inferiores do Forte do Mar. Passaram aí uma noite horrível, a primeira noite de 28 para 29 de setembro, sob um frio de doer os ossos rodeados de caranguejos, gafanhotos pretos e de uma rataria atrevida e barulhenta. Condoído dos sofrimentos do casal britânico, decide, transferi-los a mando do comandante Cardoso. Trazendo-os, para a parte superior da Fortaleza. Em novo alojamento de cômodo livre, cozinha razoável e vista para o mar. Lindley e senhora vivem, então, dias fartos de alegrias íntimas, admirando as tardes agradáveis e o lindo panorama da cidade fronteiriça. A beleza da Baía de Todos os Santos, o vai e vem das lanchas de passageiros com músicas a bordo, dirigindo-se as festas das localidades dos recôncavos. Nesta acomodação, apreciaram Lindley e esposa, na tarde de 8 de dezembro de 1802 a imponente procissão de Nossa Senhora da Conceição que se arrastava, fronteira, perto do cais da cidade baixa.

Apesar de tantas considerações e boas acomodações que lhes foram reservadas, Tomás Lindley sempre queria era a liberdade. Pois bem, até isso a fortuna veio ao seu auxilio e a influência contribuiu. Certa vez, em visita ao Forte do Mar, um seu patrício, o comodoro Campell, que estava na direção da belonave inglesa, surta no porto. Encontrando Lindley preso naquele Fortaleza, prometeu-lhe o oficial britânico que conseguiria a sua liberdade com o Governador Francisco da Cunha Meneses. Prometeu e cumpriu, pois passados apenas alguns dias Lindley, recebe a visita de um mensageiro que lhe informa que, se o exame médico a que teria de se submeter declarasse que aquela prisão é nociva a sua saúde, seria imediatamente transferido para outra Fortaleza. Todavia, acrescentou o aludido mensageiro, se ele, Lindley, quisesse despender a quantia de 4$000 mil réis teria logo a Certidão da Junta Médica sem que fosse incomodado na sua prisão”. Aceita a inesperada proposta e de súbito o britânico entrega ao mensageiro a importância arbitrada. Aguardando, meio desconfiado o seu destino. Horas depois, retornava ao Forte do Mar o mensageiro, trazendo um atestado medido firmado pelo cirurgião João Dias da Costa e pelo médico Isidoro José de Sousa. Neste documento oficial tinha escrito “juravam ambos sobre os Santos Evangelhos que o Sr. Tomás Lindley, estava violentamente atacado de inflamação generalizada e que ainda lhe provocavam hemorróidas, afetando-lhe todo o organismo a ponto de comprometer a sua existência” e concluíram: “ pela necessidade de Tomás Lindley passar a residir na cidade para mudança de ares e mais conforto que lhe eram absolutamente necessários a fim de prevenir mais sérias conseqüências”.

Transferido, semanas corridas, para a Fortaleza do Barbalho. Lastimou logo o casal britânico os seus “cômodos pequenos e úmidos, muito diferente dos arejados e limpos do Forte do Mar”. Em compensação eles tinham a permissão de passear ambos pela cidade o que lhe foi cedido por mensagem. E foram esses passeios longos por todos os cantos desta cidade que lhes permitiram fugir, sem dificuldade, rumo a longínqua Inglaterra. Na noite de 5 de agosto de 1803, tendo acertado tudo, não voltou mais a Fortaleza do Barbalho o casal ingleses. Ignorando a sua ausência o comandante Joaquim Alberto da Conceição Matos, comprometido de fato nesta aventura. No dia seguinte do aludido mês, pelas 3 horas da tarde, em pleno dia, Lindley e a esposa, tomaram na praia uma canoa de cobertura que se dirige imediatamente para o brique “Três Corações” ancorado em alto mar e pertencente ao negociante maçom Antonio da Silva Lisboa, que lhe facilitou a fuga. Passados algumas semanas o casal britânico saltava na cidade do Porto, em Portugal para ser conduzido em navio inglês para a Inglaterra. Tal aventura Tomás Lindley conta no seu livro de memória “Viagem ao Brasil” escrito em inglês mas não revela ser contrabandista porém, relata usos e costumes do povo baiano e coisas do Brasil.” (Do livro: “ A Cidade do Salvador” – autor: Alberto Silva)

MEUS COMENTÁRIOS - Álvaro

Eis uma história de corrupção, suborno e tráfico de influência passado no início do século 18 na Bahia tão a gosto do nosso reinol, envolvendo autoridades, médicos, militares e pessoas ligadas ao governo. Entretanto foi comentado na época que a fuga de Tomás Lindley teve ajuda da Maçonaria. Sempre existiu essa fatia podre do bolo de interesses em governos inescrupulosos em nosso País. É “um sistema endêmico” como disse um diplomata norte americano que foi censurado por políticos de autos escalões do governo brasileiro. Somente agora no inicio do século XXI é que estamos vendo no fim do túnel alguma coisa de “justiça”.

Trabalho de pesquisa de batacoto

batacoto
Enviado por batacoto em 17/02/2018
Código do texto: T6256482
Classificação de conteúdo: seguro