O profundo e escondido

Raquel já não suportava a ideia de que seus irmãos sofreriam por uma causa injusta no qual ela mesma cometera e não sabia como fazer, pois, sua atitude já tinha sido feita.

Pouco a pouco a noite ia caindo e a luz do sol desaparecendo. O frio cortante já soprava lá fora e o barulho dos ventos já estavam se formando. Era inevitável fazer com que aquela rotina fosse mudada, Flórida era composta de árvores, pelo menos seu bairro, ou seja, tudo realmente ia acontecer, até mesmo o balançar das folhas.

Estava repleta de culpa. ´´Meu Deus, o que faço agora? Por que cometi este roubo, por quê?'' E isso era algo que sua família jamais a perdoaria, melhor, não desculparia seus irmãos que em pouco tempo seriam acusados de vestissem de mulher.

Os hormônios estavam a flor da pele. Não somente vaidade, mas qualquer coisa que demonstrasse interesse em rapazes, Raquel estava sujeita a experimentar. O problema não era as experiências que teria, era seus pais que jamais aceitariam aquelas atitudes; ´´Somos crentes e jamais podemos desagradar a Deus.'' estas palavras ecoavam na mente da menina toda vez que tentava ou fazia algo diferente.

Raquel sempre foi uma menina diferenciada das outras, fora dos padrões estéticos. Contava tão-somente com sua mãe para desabafar algo que realmente não sentia. O permitido era só falar algo bom, algo agradável aos ouvidos do ´´Pai maior.'' Gastava parte de seu tempo escrevendo em seu diário. Coisa que também não lhe era permitido.

´´Querido diário, não sei como fazer para informar que estou gostando de um garoto, meus pais irão odiar essa ideia da filha casula esta procurando namoro antes do tempo. Hector nem olha para mim, uso todos os possíveis apetrechos, mas é em vão. Olhar não é suficiente, preciso de uma correspondência por parte dele, precisamos viver este intenso amor, ou eu não sei o que será de mim, do meu coração´´

Raquel buscou solução nos figurinos da rua. Juntava sua mesada e comprava roupas decotadas, sutiãs bonitos e blusas mostrando as costas. Algo diferente acontecia, não só o pretendente olhava-a, os outros rapazes da escola também.

O que lhe criou uma confusão, ninguém de sua casa poderia pegar em sua mochila, caso pegassem, veriam tudo o que tinha lá dentro e os castigos eram severos. Não queria passar o dia de joelhos rezando, pedindo perdão por pecados que não havia cometido.

Em uma destas falcatruas de esconder as roupas, sua mãe a interroga:

´´Filha, cadê sua mochila? Preciso colocar seus livros.''

O jeito foi pôr as roupas na gaveta de seus irmãos; vestimentas femininas. Não contava com o esquecimento brusco naquele horário, só tentava lembrar no caminho de algo que tinha esquecido. ´´Será que foi algum livro? Não, foi meu estojo de lápis. Não, meu estojo esta aqui. Ah, nem acredito que deixei minhas blusas dentro daquela gaveta, dentro de alguns minutos meus irmãos estarão pagando por algo que não fizeram. Voltar também não daria mais tempo.

Retornou para casa e ficou bem tranquila, sua mãe tinha sim, achado as roupas. O bom foi que nenhum de seus filhos viram aquilo, ela tomando posse, pois, ninguém imaginava tamanha neglicencia de ordens quanto aquelas.

Dai em diante a convivência com sua mãe ficou bem tranquilas, falavam as escondidas sobre assuntos peculiares. O que ninguém imagina mesmo, era que seu pai fazia o mesmo, e seus irmãos tinham visto sim aquelas roupas, mas pensaram ser das meninas que tinham ido a sua casa na noite passada.

Breno Nottingham
Enviado por Breno Nottingham em 12/02/2018
Código do texto: T6251872
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