Pedagogia do oprimido
O ano havia começado como sempre começou para a professora Maria das Dores, cheio de expectativa e preocupação ainda mais agora que o modelo educacional havia mudado e que talvez suas estratégias pedagógicas estivessem desatualizadas frente aos novos conceitos que lhe eram apresentados. O medo do novo é comparado ao medo da morte, uma vez que representa o fim daquilo que já estávamos acostumados ou que já se configurava inerente em nós.
O desafio de entender o que estava acontecendo, a união com os colegas que se solidarizavam em aflição e a troca de experiências de pouco êxito ou mal sucedidas davam uma projeção do que poderia ocorrer no final do ano, mas não havia escapatória o barco já navegava no oceano do desconhecido e abandoná-lo seria como se afogar na imensidão da dúvida e do receio.
A curiosidade então deu novo ânimo a ela e ao grupo, algumas expectativas atingidas outras nem tanto, mas o semestre já estava no fim e a gratidão pelo recesso, ainda que curto, representou um alívio além de uma breve sensação de dever cumprido que permitisse um curto descanso entre o fim e o recomeço.
Porém o que é bom, dura pouco, e novidade é coisa que não termina nunca, preocupação também não. Assim, iniciou o segundo semestre com muito trabalho e um cansaço de quem parece nunca haver descansado. Com o horizonte de um semestre inteiro ainda pela frente, Maria das Dores fazia jus ao próprio nome e por pouco não desembarca na estação da perícia. Sua convicção em chegar ao fim da viagem insuflou o folego necessário para seguir adiante.
Seguiu, rezou da nova cartilha, deixando para trás velhos hábitos, agarrou-se ao novo, agora não tão assustador, percebeu que não se chega a resultados diferentes agindo da mesma forma. Ela agora estava mudada, sua didática era outra, exercia sua presença pedagógica, havia perdido o medo, só o que não perdeu como professora de educação básica foi sua condicional capacidade de frustração e decepção.