Monet
- Bonjour!
O rapaz ergueu os olhos da tela que estava pintando e encarou o homem que o cumprimentara. Já o vira antes, era um funcionário do museu.
- Bonjour, Monsieur...
- Jacquard. Émile Jacquard, trabalho aqui, no Louvre.
- Oscar Monet, pintor.
Apertaram-se as mãos.
- Percebi que vem aqui praticamente todos os dias, mas, diferentemente dos seus colegas, pintores e aspirantes a pintores, não procura as obras dos grandes mestres para fazer esboços... por quê?
- Eu gosto de pintar o que eu vejo... da mesma forma que os grandes mestres faziam. E o que eu vejo é a vida lá fora - disse, apontando para a janela em frente a qual armara o seu cavalete, e que dava para um dos jardins do museu.
- Fascinante - admitiu Jacquard. - Mas poderia fazer isso ao ar livre, suponho...
- Oh, há temas que posso utilizar, dos mestres que estão pendurados nas paredes do Louvre... estou aqui para ver isso, também - justificou-se o pintor. - Mas, tendo cursado belas artes, não creio que haja algo de suas técnicas que eu precise aprender.
Jacquard ergueu os sobrolhos.
- Então, considera-se um artista pronto?
- Não tenho tal pretensão, Monsieur Jacquard. O que eu quis dizer é que busco elaborar minha própria técnica artística, algo que represente a ruptura da simples representação do real, tal como vemos na maioria das obras aqui expostas...
- Mas se pretende firmar-se como pintor, talvez seja um movimento por demais ousado para arriscar. Os compradores de arte geralmente baseiam seu julgamento no que já conhecem... e o que conhecem...
Fez um gesto para a galeria onde estavam, na qual estudantes de arte faziam seus esboços em cadernos de desenho. Monet sorriu.
- Talvez, Monsieur, esteja chegando o momento em que as pessoas irão julgar uma obra menos pelo aspecto formal e mais pelos seus sentimentos em relação à ela.
- Sentimentos? Fala, talvez, de estética...
- Não apenas. Às vezes, somos atraídos por alguém que talvez não seja tão belo, mas que desperta em nós sentimentos que não conseguimos sequer classificar.
- O amor certamente exerce tal efeito - ponderou Jacquard.
- E por que não a arte, Monsieur? - Desafiou-o Monet.
- Fala de criar uma obra de arte... para ser amada? - A expressão de Jacquard era reticente.
- Se o amor, um sentimento sublime, nos faz transcender a realidade, o mesmo deveria fazer a arte. Eu cresci na Normandia, embora seja parisiense de nascimento... os espaços abertos me fascinam. O efêmero me fascina. Como fazer para capturar isso numa tela?
Jacquard pareceu ficar intrigado com a ideia.
- Se alguém lograr fazer isto, iria revolucionar a pintura...
E pousando o olhar sobre o esboço na tela sobre o cavalete:
- Parece-me uma boa tentativa de captura do efêmero aqui... os jardins do museu e uma jovem de sombrinha aberta, olhando em sua direção?
Monet abriu um sorriso.
- Vejo que está se deixando guiar pelos seus sentimentos, Monsieur Jacquard! Félicitations!
- [02-02-2018]