Nil e a selvagem
Foi meu primeiro encontro desta semana. Uma voz suave ao telefone. Imaginei uma mulher de uns vinte e poucos anos, loira, cheirosa, que acabou de sair de um banho de espuma, enrolada em um roupão felpudo e macio. Mas confesso que não sou bom nisso. Sempre minhas imaginações não batem com a imagem real. Sou bom em outras coisas. Ainda bem.
E lá fui eu para o meu delicioso trabalho. Às vezes nem tanto. Esta vida não é tão fácil assim; como nos empregos convencionais, se assim posso dizer, tenho que me sujeitar a certas coisas, obedecer ordens. E no meu caso às vezes essas ordens não são muito ortodoxas.
Quando aquela mulher abriu a porta eu senti um forte perfume de incenso. Eu não suporto aquele cheiro. Ela me puxou para o quarto. Velas perfumadas pelos cantos, alguns gnomos pendurados por cima da cama. Tinha até um saci pererê em cima de um criado ao lado de uma fada. Bom, eu acho que era uma fada, pois tinha uma varinha na mão, e toda fada tem que ter uma varinha de condão não é mesmo?
Ela começou a me despir para me excitar. Aquele cheiro de vela queimada misturada a incenso e outras essências misturadas com aquela fumaça estava me deixando tonto. Parecia um ritual. Aos pés da cama tinha uma vasilha cheia de cristais iluminados com uma luz azulada. “O que significa tudo isso?” E mesmo com todos aqueles embaraços eu reagi perfeitamente. Estava pronto para executar meu trabalho.
Então ela começou a dançar. Ela era morena, cabelos longos. Um cabelo encaracolado com aspecto de sujo. Parecia que nunca tinha visto um pente, uma escova, sei lá, mas eu achei exótico. Ela usava um vestido indiano, e no pescoço um colar com um enorme sol dourado me chamou a atenção. Sem brincos e sem maquiagem e pés descalços.
Ela me olhava nos olhos e com a mão me puxou para junto dela e insinuou que eu a deixasse nua. Eu queria terminar aquilo rápido, pois sabia que não iria aguentar muito tempo aquela situação ofegante. Tirei seu vestido com uma rapidez demonstrando uma certa avidez no meu olhar. Porém quando me deparei com seus seios eu quase amoleci. Os pelos disputavam entre si para ver quem se sobressaia mais. Tive medo de olhar para baixo, mas meu olhar percorreu o famoso caminho da felicidade e parou no inferno de Dante, na mata atlântica…
Mantive firme meu pensamento e usei a velha técnica da imaginação. Trouxe o corpo escultural de uma modelo à minha mente: pele lisinha, sedosa, cheirosa…
Tive uma certa dificuldade para me embrenhar naquela mata e toda vez que olhava para suas axilas eu agradecia o cheiro das velas e do incenso. Nunca tinha visto tantos pelos em um só corpo. Ela me falou que era adepta de uma seita que eu nem fiz questão de lembrar o nome. Tudo o que eu queria era sair dali com meu dinheiro na mão e ir pra casa tomar um belo banho e apagar aquela imagem da minha cabeça.
Não tive um excelente desempenho naquele encontro, mas ela ficou feliz por eu ter aceito de presente um de seus gnomos, o qual eu joguei fora assim que sai de lá. Aff! Não foi nada sensual fazer sexo com todos aqueles seres pendurados no teto me olhando com aquela cara esquisita.
Por hoje é só.
Um beijo do Nil.