XXI,o novo velho caso
-A mesa está posta. Acompanha seu pai que depois eu vou. - vinha a voz da sala de estar.
Sobre a mesa havia duas xícaras. Na jarra, três xícaras de café. Não hesitei em tirar mais uma do armário para completar.
Sempre existia o tilintar da louça, mas naquela ocasião era como se ele suplicasse pela quebra de silêncio. Ou de gelo, naquele dia tão quente.
O silêncio, tão corriqueiro nas refeições durante meus devaneios, estava martirizante. Aquele silêncio deixava claro que eu e ele pensávamos na mesma coisa. E no silêncio. O que parecia tirar minha liberdade de devanear solto.
-Quando voltam as aulas?-perguntou. O silêncio reinava.
Eu olhava para o líquido à minha frente: escuro, opaco, de profundidade oca.
-Fim do mês- respondi.
O barulho da comida na boca não acalentava como em “Caso do Vestido”, de Drummond. Ao contrário disso. Porém, eu não estava sequer a par do caso.
Como eu, criatura do patriarca e da matriarca, deveria permanecer?
O café, recém-feito, desceu minha garganta, fumegando. Estava do jeitinho que sempre fora, no entanto preenchia o corpo com um frio amargo.
-A mesa está posta- repeti como se após um “apesar de” e me retirei.