Magnétika- cap. IX

Comentei, muito sem graça, na semana seguinte, com Dona Zulmira, que falou com Seu Josivaldo. Ele consentiu em vir falar com meu pai.

Ele chegou em casa comigo; procurou se aprumar, colocou um terno gasto, ajeitou o cabelo. Minha mãe deu-lhe a mão friamente:

-Bom dia, o senhor bebe alguma coisa?

-Não, sou abstêmio; faço macrobiótica; herança dos 60...

-Ah...

Eu morria de vergonha; o escritório se abriu; meu pai, formal, convidou-o a entrar, quando...seu rosto se iluminou :

-Você...não é o Joselito da Várzea?

-Sou...e você...não é o Raulzito do XV de Jaú?

-Entre, mas não é possível?-disse, dando uns tapinhas em seu ombro.

Minha mãe ficou estupefata; seu marido, tão formal e elegante, além de sério, se prestava àquelas amizades...

A conversa durou bem uns trinta minutos; a porta se abriu e se ouviu um resto de conversa:

-Aquele campeonato foi roubado...

-Foi nada; vocês é que são pernas-de-pau...

-Passa lá qualquer dia pra tomar aquela de alambique...marronzinha!

-Essa é da boa!

-Boa noite, senhora!

Minha mãe não se continha; esperou ele ir embora e indagou, fuzilando:

-Mas...o que é isso? De onde conhece essa gente?

-São gente de bem; conheci-o quando jogava bola na adolescência...são gente de bem-disse, recompondo-se e voltando à postura séria.- São gente de bem...não tem problema.

Com o aval de meu pai pude continuar com minhas excelentes amizades, mas com alguém queria mais que isso. Era a Gabrielle; ela já havia notado e eu, sempre tímido, não conseguia demonstrar o que sentia.

Um dia, à mesa, percebi que se sentou ao meu lado; aquele corpo formoso e roliço. Num dado momento, percebi um olhar mais terno e um roçar de sua perna na minha. Entrei em ebulição de vergonha e...desviei o olhar. Depois, peguei-lhe a mão corajosamente!