Cobertura de kiwi

A seta da moto está ligada.

Um homem faz rapel no topo de um poste enquanto fala algo inaudível para outro que segura equipamentos no chão.

Carros param para esperar mulheres bonitas, pessoas com crianças e idosos atravessarem na faixa pintada no chão, o restante é quase atropelado.

Uma senhora varre a calçada e conversa com uma mulher.

No centro pessoas se agitam numa colmeia em busca de fazer algo que parece ser demasiado importante.

Um vai e vem, barulho, ruido e calor.

Um menino pede um salgado a mãe.

Mulheres de sapato alto entram em uma loja cara.

Caixas vazias de comprimidos para impotência são levadas pelo vento, coisas caem da caçamba de lixo enquanto os garis a despejam no caminhão os resíduos da felicidade.

Fumaça, poeira, suor, velocidade, tudo move-se para algo incompreensível.

O caos parece reinar com maestria em meio as individualidades da coletividade, tudo aparentemente orbita o poder.

Presentes, viagens, conforto, rodas aumentadas em carros rebaixados.

O mundo me parece dividido entre os que tem poder e os que desejam ( o silêncio dos impotentes ).

Na contra mão desse poder desenfreado, lá na mata, existe uma cabana esquecida, cercada de pássaros que anunciam o raiar do dia.

Dentro de nós.

A verdadeira beleza da vida está no meio dessa mata, se se esforçar, não se sente falta da cobertura de kiwi no sorvete de chocolate.