Meu cientista espacial

São 05h45min da manhã. Que frio, está fazendo! Acordo e vejo você num sono profundo. Sinto o cheiro do seu hálito, ainda cheira ao vinho que tomamos no jantar.

Eu esperei, você, ansiosamente, por um ano e dois meses, em nenhum momento hesitei em minha dolorosa espera.

Você retornou a nossa casa, como vindo do espaço. Sim! É lá que estava você! Meu cientista espacial...

O mundo requisitou teus serviços, e por conta disso, o deixei partir.

Você não pertence a mim, somente. Você foi feito pra voar, tem suas próprias asas e, eu, fui feita, pra esperá-lo retornar, pois você, é o único que tem as chaves do meu mundo, e nesse portal mágico em que vivo, não há lugar para outros sujeitos, somente um cientista espacial como você.

Agora você me abraça, sente falta do calor do meu corpo, me procura em nossa cama. Um ano e dois meses sem meu calor, congelando numa temperatura abaixo de zero. Eu estou, aqui, perto, agora, já não há mais o céu, as estrelas, os satélites, as naves espaciais e toda parafernália tecnológica nos separando. Agora, só há você e eu, em nossa cama aquecida, pelo calor dos nossos corpos.

Eu guardei seu espaço. Confesso... Invadi sim, sua parte da cama, mas invadi pra tentar resgatar seus vestígios, seu cheiro, suas marcas no colchão, o molde da sua cabeça no travesseiro. Eu adentrava o seu espaço nas noites mal dormidas, na esperança de amenizar minha alma, do imenso vazio que você deixou; enquanto estava prestando seus serviços ao espaço sideral.

O nosso gato até faleceu, coitadinho... depois que você se foi ele vinha pro meu lado, todo amuadinho, se enroscava nas minhas pernas como quem dizia: Onde ele está? Eu sabia o que ele queria, entendo o idioma dos gatos. Dizia ao nosso gatinho: ele vai voltar, tenha paciência, ele sabe onde moramos, mas teve um dia que ele não acordou, notei que ele estava inerte demais, e quando o peguei em meus braços, percebi que já não havia vida em seu corpinho.

O nosso gato faleceu de saudades do dono...

Mas, eu permaneci viva, renascia todos os dias, pois sabia que meu cientista estava acima de mim. Quando a saudade apertava demais, quando o coração dava aquelas reviravoltas de solidão e ficava pequeninho, apertadinho, eu caminhava até o jardim, colocava uma cadeira sobre a grama, me sentava, e ficava olhando o céu. Era lá que você estava em alguma direção, daquele mar de estrelas.

Então, avistei uma linda constelação e resolvi dar a ela o seu nome, achei-a parecida com você. Dei-lhe o nome de, nunca te esquecerei, e parece que ela nos abençoou, me trouxe você de volta, e agora, você repousa suavemente em nossa cama, preenchendo seu espaço vazio, recolocando sua cabeça no molde do travesseiro, e recobrindo o meu corpo com o teu.

NickaScar
Enviado por NickaScar em 21/12/2017
Reeditado em 20/03/2018
Código do texto: T6204306
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