A DOAÇÃO PAG 7
Júlio muito emocionado com a narrativa de jardineiro comenta: _As emoções são fortes, quer parar e comer alguma coisa? Ou quer continuar a falar? Se bem que estou curioso para saber tudo do seu romance, e parece que ela ficou ruim de saúde de repente? –
Jardineiro respira fundo, pede: _Não quero parar, preciso te contar tudo, desabafar o que está me corroendo o coração, agora estou adquirindo coragem para te contar o momento mais emocionante que vivi nesta vida, Foi uma situação que não esquecerei jamais, e agora que relembro tudo, se tornou o combustível que vou usar para superar esta minha vida de sofrimento, e cumprir uma promessa, Zezão depois do ocorrido me explicou que ela já vinha com leucemia.
Júlio se recostou na parede e esticou as pernas, buscou uma posição confortável para ouvir o relato do Jardineiro, pensando. “Que emoções seriam aquelas?” jardineiro continua o relato.
Ficamos um pouco em silêncio, eu não sabia o que dizer, Maria aperta minha mão, comenta:
_ Estou muito triste, algumas vezes pensei em me matar, ainda bem que não consegui porque pude te conhecer, agora que queria viver e criar uma família a morte vem me buscar –.
Antes que eu dissesse qualquer coisa ela pediu: _ Quero que me faça um favor, mais que um favor, é um compromisso uma promessa que é a coisa mais importante para mim. –
Uma enfermeira veio ver como estava o soro, atrapalhou um pouco a nossa conversa, quando a enfermeira saiu.
Maria pede: _Eu quero que você visite meus dois filhos no nordeste, sei que minha mãe cuida bem deles, eles são muito pequenos ainda, eles precisam de um pai, meu sonho era a gente morando juntos, sem esses malditos vícios e trazer meus filhos para morar aqui, você sabe o endereço deles? –
Respondi: _Claro que sei! Já me falou tanto da sua cidadezinha, da escola, da prefeitura da banca de frutas da sua mãe que não tem como errar, até a fisionomia os jeitos deles eu sei de tanto me falar, por favor, para com este papo de morte, nós vamos juntos ver teus filhos. –
Ela ainda com olhos cheios d’gua diz: _Eu não queria que eles me vissem assim... Promete que jamais vai dizer a eles que a mãe era uma drogada, que abandonou a família pela droga? –
Peguei as suas duas mãos e falei solene: _Eu nunca falaria umas coisas destas, e de agora em diante eles se tornaram meus filhos, a gente não se trata como marido e esposa? (na intimidade eu a chamava de “minha esposa” e ela de “meu marido”). –
Ela começou a chorar baixinho confirmando o que eu disse, balançando a cabeça.
Afirmei:_ São meus filhos e vou registra-los como tem que ser. –
Maria fez um enorme esforço para se levantar procurando me abraçar, não deixe me debrucei sobre ela num grande abraço, percebi que usou toda a sua força me apertando junto ao seu corpo, seu estado era péssimo, muito pálida, as mão geladas, lábios sem cor parecendo que a vida estava indo embora, me pediu: _ Me dê um beijo! –
Eu a beijei longamente, não nos importamos em sermos banguelas, não ligou para o meu bafo de pinga e não liguei pelo seu hálito de hospital, quando terminamos o beijo umas três pessoas que assistiam a cena aplaudiram até a enfermeira que ia passando deu risadas dizendo: _ Ô laia... Aqui não é motel não!! – Todos riram...
Maria mostrando um pouco de alegria no olhar pega minha mão, diz: _Eu descobri porque a gente tem dificuldades para largar o vicio. –
Duvidando questionei respondendo: _Ora! A gente não larga porque não quer! É só querer! –Ela fala olhando para o vazio como estivesse com dificuldades de dizer o que queria, fala com profunda lucidez.
_ É isso, não queremos porque não abrimos mão do prazer, mesmo sabendo que este prazer é nocivo, nojento, destruidor, continuamos a procurar, eu agora desisti deste prazer, não quero mais, sei que é tarde.
Olhe para você, um belo homem, inteligente, carinhoso, bom, até as plantas te amam, se tornar um farrapo humano apenas pra ter este prazer que o álcool dá, já imaginou quantas alegrias você está perdendo, longe da família, perdendo a felicidade de cuidar de um filho de cuidar duma mãe ou de um pai, já pensou quanto te custa este prazer horroroso?
O preço que paguei derreteu minha alma. –
Agora vejo quanta coisa eu perdi para ter este prazer mórbido nefasto. Perdi o carinho da minha mãe
Ela começou a chorar de mansinho, com os olhos alucinados começou a dizer soluçando.
_Ah... Eu paguei o preço mais caro que uma mulher pode pagar neste mundo. Ô.. Mãe Santíssima! Só a Senhora sabe o preço que estou pagando. –
Ela chorou, um choro forte desesperador levantou a voz, clamando e chorando convulsivamente.
_ Mãe de todas as Mães... Alivia meu coração.. Minha alma não aguenta mais, tenho sofrido as agruras do inferno, ficar longe dos meus filhos me enlouquece.
Ô Mãe querida, estende seu amor sobre mim, Mãe de Deus ...Mãe de Deus...
Só o seu amor pode colocar um alivio neste meu coração que sangra de dor, eu venho morrendo aos poucos todo dia, nem as maiores torturas do inferno é tão doloroso como ficar longe dos meus meninos.
Ah... Como eu gostaria de estar com eles agora, abraçar, beijar, dar de comer , dar banho, trocar de roupas, levar para a escola, brincar, contar historias para eles dormirem, ouvir a suas vozes, ouvir a doce palavra “mãe” haverá alegrias maiores que esta neste mundo???
E tudo isto Mãe Santíssima perdi em troca deste vicio maldito, Mãe... Mãe.... Mãe .... Do Amor alivia a alma desta sofredora. –
As pessoas em volta choravam duas enfermeiras também choravam, a médica veio ver o que estava acontecendo, a enfermeira informa que ela chorava de saudades dos filhos, a médica saiu enxugando lágrimas.
Continua...